Toda paixão tem um começo… E a minha por bicicleta também!
Chegamos cedo à estação Vila Olímpia, local de partida da minha primeira viagem de bicicleta e iniciamos o pedal as 7:00h juntamente com aproximadamente 9.500 ciclistas.
Meu pai tem um sítio em uma pequenina cidade chamada Itariri, distante 160 Km de São Paulo e a 20Km de Peruíbe, litoral sul de São Paulo.

Wilson, seu irmão e sua prima / © Arquivo pessoal
Numa dessas viagens para Itariri, parei em um posto de gasolina localizado na rodovia dos Imigrantes para esticar as pernas e tomar um café, e onde havia vários ciclistas parados esperando o restante do grupo e equipados com bicicletas até então desconhecidas para mim. Com certa timidez cheguei para um dos ciclistas do grupo para conversar e disse a ele que achava a sua bike muito interessante e o questionei se todo aquele pessoal estava indo para Santos.
De fato, esse grupo estava indo para Santos e, com mais curiosidade, quis saber por onde ia ocorrer a descida, arriscando o palpite pela estrada velha de Santos. O educado ciclista neste momento disse-me que a descida é feita pela estrada da manutenção da DERSA (foi a primeira vez que ouvi falar neste caminho). Vendo o meu interesse, aquele rapaz me informou que sempre em dezembro ocorre uma descida coletiva para Santos organizada por uma ONG. Ele não lembrou exatamente o site, mas deu a dica para procurar em um site de busca alguma coisa do tipo Ciclobrasil, que na verdade depois descobri que se tratava do instituto CicloBR.
A partir de então, comecei a ler algumas coisas a respeito, sobre a estrada da manutenção, sobre bicicletas etc. Em dezembro de 2012, faltando uma semana para a descida fui a uma bicicletaria na Zona Norte de São Paulo com a intenção de montar uma bicicleta, seguindo a sugestão de um amigo com um pouco mais de experiência no assunto. O dono da loja então me disse que era impossível montar uma bicicleta em uma semana e sugeriu eu comprar uma já montada. Decidido a realizar a descida, comprei a minha primeira bicicleta, uma Gallo que neste momento achei o máximo, o Top das Bikes. Nesta mesma semana, comprei uma mochila de hidratação (que usei somente essa vez) e um capacete. Como eu já fazia academia, praticava Boxe e corrida não fiquei muito preocupado em me preparar fisicamente para pedalar.
Chamei este meu colega que me ajudou na compra da bicicleta e uma prima para irem comigo e ambos toparam. Tudo pronto era aguardar a data da descida que ocorrera em 09/12/2012.
Na noite anterior nem consegui dormir tamanha ansiedade. Combinei com a minha prima e meu amigo sairmos da 5:00h da manhã da minha casa, rumo ao metrô.
Chegamos cedo à estação Vila Olímpia, local de partida da minha primeira viagem de bicicleta e iniciamos o pedal as 7:00h juntamente com aproximadamente 9.500 ciclistas. Ficamos horas para atravessarmos as balsas e em nenhum momento fiquei nervoso ou incomodado com a situação, pois tive o privilégio adquirir experiências de outros ciclistas, demos várias risadas e pude ver a força e união de todos dessa enorme comunidade.
Vi paisagens deslumbrantes, e de bicicleta foi possível contemplá-las, o que é impossível de fazer descendo a serra de carro.
Chegamos as 21:00hs na rodoviária de Santos, onde meu irmão estava nos esperando, alias, meu irmão é nosso anjo da Guarda nas nossas viagens pois sempre está disposto a nos buscar em qualquer lugar! Chegamos sim muito cansados, mas com uma felicidade que não cabia no peito.
Depois desta viagem, tive a certeza que nunca mais iria parar… E não parei!
Com essa mesma bicicleta, a Gallo e sem nenhuma experiência, encarei a minha primeira cicloviagem, logo o Caminho da Fé com o meu irmão William. Durante aproximadamente 6 meses fiz todo um planejamento, li blogs de outros ciclistas que já haviam feito o Caminho da Fé, troquei alguns componentes da minha Gallo para “agüentar o tranco” e comprei bagageiro e alforges. Nesta época, meu irmão morava em Bogotá, na Colômbia e trouxe sua bicicleta de lá. Uma lapierre super incrementada, aro 29, freio a disco hidráulico e tudo mais.
Eu sabia, pelos blogs que li, que o Caminho da Fé devido a sua altimetria é bem pesado por isso treinei bastante, pedalando pela cidade e treinando na academia. Mas só estando lá pra de fato sentir o que é chegar ao limite físico. Com subidas intermináveis, alguns trechos sem água e descidas desafiadoras. Nunca empurrei tanto a bicicleta como no Caminho da Fé. Foi uma experiência incrível, algo pra mim sobrenatural, pois nunca havia feito algo parecido. Cada subida vencida nos presenteava com uma vista espetacular.
Encontramos pessoas acolhedoras no caminho, que se preocupavam com nosso bem estar, atitudes que não existem mais nas cidades grandes. Foram momentos únicos e não tem como explicar a emoção quando chegamos à Basilica de Aparecida do Norte após 6 dias de pedal. Os meus olhos se encheram de lágrimas, meu irmão e eu nos abraçamos e comemoramos muito a nossa chegada. Meu outro irmão, o mesmo de Santos, estava lá nos esperando mais uma vez.
Muitas pessoas que encontramos nos perguntavam se era a primeira vez e diziam que ao fazer o Caminho da Fé uma vez, sempre volta e, de fato, voltamos.
Na segunda vez, fiz o caminho da fé com o meu irmão que mora em Bogotá, juntamente com minha prima (a mesma que foi pra Santos comigo) e a minha esposa. Como já tinha a experiência do ano anterior, minha maior preocupação foi com relação ao preparo físico do pessoal que iria comigo. Por isso durante 6 meses, solicitei ao pessoal foco no preparo, pois sabia que um bom preparo é fundamental para percorrer os 325Km do Caminho da fé. Procurei ajudar a minha esposa com o seu preparo, tanto na academia quanto pedalando. Como ela já fazia natação 3 vezes por semana, o preparo maior foi o de fortalecer a musculatura e ajudar na adaptação com o pedal. Chegamos a fazer uma viagem de bicicleta entre Joanópolis e São Francisco Xavier, ambas as cidades localizadas no interior de São Paulo. Isso foi importante para dar mais confiança a minha esposa para ir ao Caminho da Fé.
Já a minha prima e o meu irmão não puderam se preparar adequadamente e foram com a “cara e a coragem” apesar dos meus apelos para se prepararem.
Iniciamos nosso longo percurso e logo de inicio subimos a primeira serra entre a cidade de Águas da Prata e Andradas. Nisto o pessoal já pode ver o que viria pela frente e, no mesmo dia, subimos a Serras do Lima para chegarmos à pousada da dona Natalina. O esgotamento físico principalmente da minha prima e do meu irmão foi grande, mas nada melhor que uma noite de sono para recuperar as energias. E assim foi durante todo o trajeto, subindo e descendo serra, e eu achando hilários os xingamentos da minha prima toda vez que via pela frente uma subida.
Em Alguns momentos achei de fato que ela iria desistir, mas a sua força de vontade e fé acabaram por compensar a falta de preparo físico. Chegamos a Aparecida do Norte no final da tarde do sexto dia, exaustos. Emocionei-me quando vi a minha esposa chorando ao ver a Basílica à sua frente. A sua emoção foi a mesma que senti na primeira vez que fiz o Caminho da Fé e veio à minha mente exatamente isso. Comemoramos muito a nossa chegada eu dizia em voz alta “Eu disse que daria pra chegar”.
Desde essa nossa aventura, minha esposa sempre está comigo nos pedais. Fizemos outras viagens como a parte baixa do Vale Europeu no evento Velotur 2015 e em julho de 2015 o caminho velho da Estrada Real.
Estamos planejando pelar pela Carretera Austral e, com certeza, este será o maior desafio de nossas vidas!