Investimento em abertura de ruas gera economia aos cofres públicos
Os cálculos consideram os ganhos em qualidade de vida, segurança pública, saúde pública, coesão social e menor poluição visual e sonora.
Texto escrito pela jornalista Ana Carolina Nunes
Levantamento aponta que o investimento em ruas abertas economiza o equivalente a três vezes o valor em saúde pública. A conclusão é de uma pesquisa da Universidade de los Andes, que quantifica os impactos no orçamento público gerado pela abertura de ruas em Bogotá e Medellín, na Colômbia, e San Francisco, nos Estados Unidos. Na capital colombiana, onde 121 quilômetros de ruas e avenidas são abertos para o lazer todos os domingos, cada dólar investido na política pública gerou uma economia de três dólares aos cofre públicos, totalizando 13 milhões de dólares poupados por ano.


Thiago Benicchio
Número de pessoas em tipos de vias: Paulista Aberta – 26; Paulista Fechada – 14* (* considerando a taxa de ocupação média de 1,4 pessoas/carro em SP)
Os cálculos consideram os ganhos em qualidade de vida, segurança pública, saúde pública, coesão social e menor poluição visual e sonora. Isso porque a política pública de abertura de ruas estimula a população a realizar atividades físicas e deslocamentos ativos, mesmo entre pessoas que são sedentárias em outros dias da semana. Em Bogotá, por exemplo, mais da metade dos participantes das Ciclovías Recreativas (como são chamadas as Ruas Abertas no país) cumprem aos domingos o mínimo de 150 minutos de atividade física, o equivalente ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).


A própria OMS afirma que cada dólar investido em promoção de atividade física pode economizar o triplo em saúde pública. O diferencial de fazer isso por meio de abertura de ruas é o potencial de ressignificação do espaço público, a diminuição dos níveis de ruídos e poluentes do ar e a possibilidade de reunir pessoas de diferentes níveis socioeconômicos em um mesmo espaço. “Essas iniciativas se revelam como grandes oportunidades para incrementar as áreas de lazer dos centros urbanos, que muitas vezes são concentradas e insuficientes, com um investimento simples e de baixo custo em espaços que já são públicos”, destaca a arquiteta Rafaella Basile, da ONG Cidade Ativa.




Sobre a mobilização #PaulistaAberta


Em setembro de 2013 as organizações Sampapé e Minha Sampa começaram a pressionar o poder público pela abertura da avenida Paulista para o lazer. Após ser pressionada pela mobilização online no site Panela de Pressão, a Prefeitura da São Paulo acolheu a ideia e a testou nos eventos de inauguração das ciclovias das avenidas Paulista e Bernardino de Campos. Atualmente, mais de 30 organizações integram o movimento PaulistaAberta.
Letícia Sabino, uma das idealizadoras da mobilização, acredita que a proposta propicia um espaço de qualidade para o encontro e a convivência: “a avenida Paulista, pelo que representa, tornou-se um dos símbolos da cidade, para onde pessoas de várias regiões vão se divertir e se encontrar. Entregá-la para as pessoas, mesmo que por um dia, é muito importante para desconstruir o modelo rodoviarista de cidade e recuperar a convivência no espaço público”.
A implantação da medida, no entanto, vem encontrando resistência dentro do Ministério Público Estadual, que tem um acordo com a Prefeitura para que a via só seja bloqueada para carros três vezes ao ano. Além disso, a Associação Paulista Viva, que representa empresas e entidades privadas, vem se posicionando ativamente contra a medida, inclusive pressionando o MPE. Apesar das manifestações contrárias, uma pesquisa realizada pelo movimento PaulistaAberta comprovou que 75% dos comércios da avenida que ficam abertos aos domingos são favoráveis ou indiferentes à medida.
Entendendo que a abertura da Paulista aos domingos tem sido bem recebida pelos paulistanos, o grupo PaulistaAberta publicou um manifesto solicitando ao Ministério Público Estadual que reconsidere sua posição e abra o canal para o diálogo com os cidadãos paulistanos sobre a medida. Além disso, hoje o site Panela de Pressão direciona a mobilização para os promotores do Ministério Público.