Brasileira vence machismo para ser primeira árbitra UCI do país
"Parecia que eu era café-com-leite". A frase é de Elaine Sirydakis, a primeira mulher brasileira a conseguir uma licença da UCI para trabalhar como comissária em provas de ciclismo de estrada.
“Parecia que eu era café-com-leite”.
A frase é de Elaine Sirydakis, a primeira mulher brasileira a conseguir uma licença da UCI (União Ciclística Internacional) para trabalhar como comissária em provas de ciclismo de estrada. Para chegar até lá, a catarinense teve de enfrentar as resistências de um ambiente essencialmente formado por homens.
“Eu sentia dificuldade de me aceitarem como parte integrante do grupo, principalmente com meus colegas nos primeiros dias. Parecia que nao me viam…’ah, é uma mulher lá da América do Sul…’, então além da pressão de estar fazendo uma provas dessas, tive a dificuldade de fazer com que trabalhassem comigo, que me vissem como igual”, conta sobre a fase final de testes, em que todos concorrentes e avaliadores eram do sexo masculino e europeus.
Murilo Azevedo
Elaine entrou no mundo do ciclismo há cerca de dez anos por influência de sua irmã Kathya, que já era comissária nacional. Desde então, a catarinense tinha a meta de chegar à UCI, mas o ‘sprint’ final até a nomeação veio nos últimos três anos, com um curso preparatório no Panamá, provas teóricas na Suiça e a aprovação na prova prática, realizada no Tour da Áustria deste ano.
A trajetória fora do país, aliás, foi a grande pedra no sapato. “Não é uma caminhada fácil, é um curso muito difícil e um universo ainda muito masculino. Ainda mais pra alguém que vem de um país que não é tradicional no ciclismo, então as pessoas desacreditam. Só com estudo, dedicação e força de vontade a gente chega lá.”
Se o Brasil também está no hall dos que amargam os efeitos do machismo no ambiente de trabalho – inclusive com mulheres recebendo menos que homens pelas mesmas funções, em média – ao menos no ciclismo a história foi diferente para Elaine.
“Pela experiencia que tenho, o Brasil é um dos países com mais mulheres trabalhando no meio do esporte, principalmente no ciclismo. Se você conversa com pessoas lá fora, não encontra tantas organizadoras ou comissárias mulheres”, conta.
E foi em casa que Elaine trabalhou pela primeira vez sob a chancela (e indicação) da UCI. No Tour do Rio, principal competição do calendário no país, ela foi a presidente do colégio de comissários, cargo de arbitragem mais importante da prova.
Murilo Azevedo
Elaine teve sua estreia como comissária UCI durante o Tour do Rio 2015
“Não tinha lugar melhor pra receber minha primeira nomeação, pois já conheço a todos, a organizacao do evento, e já trabalhei no Tour do Rio em outros anos como comissária nacional”, diz a árbitra que vive a expectativa de estar nos Jogos Olímpicos do ano que vem.
“Para os Jogos são indicados árbitros com mais experiencia, digamos que eu ainda sou um bebê. Devo estar no grupo, mas como comissária nacional”, explica.