Opinião: Somos todos responsáveis por mortes no trânsito!
Tivemos em dois dias, dois incidentes com mortes na cidade de São Paulo que entristeceram profundamente a todos, em especial os ciclistas.
Tivemos em dois dias, dois incidentes com mortes na cidade de São Paulo que entristeceram profundamente a todos, em especial os ciclistas.
Um ciclista que atropelou e matou um senhor de idade, na Avenida Amaral Gurgel e um motorista de van, em alta velocidade, que atropelou e matou um menino de 9 anos, que acessava a ciclovia na pista central da Avenida Bento Guelfi, na zona leste.
Ambos incidentes teriam sido evitados caso a velocidade dos condutores de veículos estivesse sob controle.
Essa premissa está bem clara no artigo 29 do Código de Transito Brasileiro:
§ 2º Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.
No caso da Avenida Bento Guelfi, onde o menino de 9 anos perdeu a vida, a velocidade máxima está bem clara e sinalizada, 30 km/h. Estive no local e os relatos são imprecisos, sobre se o menino já estava na ciclovia ou no acesso da mesma. Ele foi colhido em uma baixada dessa avenida, local que induz os motoristas a rodarem em alta velocidade.
arte de Reynaldo Berto
Se a velocidade de 30 km/h fosse respeitada, a ciclovia no meio da pista seria segura, mas não é o que acontece, então qual é o veredicto? O problema é a ciclovia que atrai uma criança, ou a alta velocidade que os motoristas imprimem naquela avenida e saem impunes de seus crimes?
No caso do ciclista que atropelou um senhor de idade, é de se imaginar que, para um ciclista matar uma pessoa, a pancada tem que ser forte. O fato é que o ciclista estava conduzindo sua bicicleta em uma velocidade tal que não conseguiu evitar o incidente.
Essas duas mortes provocam um importante debate. Lá na periferia, em São Mateus, onde o menino de 9 anos foi morto, todos são unânimes em acreditar que a ciclovia deveria ter uma proteção lateral para proteger o ciclista e poucos entendem que o problema está na alta velocidade que os motoristas imprimem naquela rua.
Aqui no centro, alguns acreditam ser impossível o compartilhamento de uma ciclovia com pedestres e ciclistas. É um erro imaginar que há segurança na segregação, algo assim:
“Coloque um muro aqui, de um lado ciclistas, lá de outro os pedestres, e aqui na rua, os motoristas podem fazer o que bem entenderem pois se matarem alguém a culpa será do infeliz que ousou estar deste lado!”
O debate é importante, mas não se pode desviar o foco.
É imaturo acreditar que a culpa está na ciclovia, ou na falta de proteções, ou no compartilhamento de uma calçada com pedestres e ciclistas. A responsabilidade civil é a regra número um de uma sociedade minimamente madura.
Culpar a ciclovia ou o compartilhamento de calçadas é o mesmo de achar que todos nós devemos andar com coletes a prova de bala para evitar assaltos ou balas perdidas! Pior, imaginar que esses coletes devam ser fornecidos pelo poder público.
A indulgência a motoristas em alta velocidade nesse país é um enorme entrave em nossa sociedade. Em São Paulo, morrem dois pedestres a cada 3 dias atropelados por veículos que trafegavam a uma velocidade tal que não puderam evitar o incidente, mesmo estando na velocidade permitida para o local.
Ou seja: o artigo 29 de nosso Código é simplesmente ignorado. A lei do bom senso não existe em nosso povo, que prefere culpar o Estado, o outro, a ciclovia, a falta de proteção da mesma, do que refletir na sua própria conduta, na nossa conduta, na conduta do povo.
Essa é a diferença entre assumir a responsabilidade ou jogá-la no outro. O brasileiro tende a se esquivar da mea-culpa e nunca assumir uma atitude responsável e liderar uma mudança.
Taí a nossa crise política, a culpa é sempre “deles” e nunca “nossa”.