Diário das Magrelas: Domingo teve manifestação de uma nova era
Domingo me fez enxergar com mais nitidez duas cidades, aquela que vive com saudades do velho que atende a felicidade de poucos e ao sofrimento de muitos e aquela que sorrindo ocupa o que é de todos.
O elevado Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão, tem esse nome oficial em homenagem ao Marechal Arthur da Costa e Silva, presidente de 1967 a 1969, período conhecido como “anos de chumbo” da ditadura militar brasileira. O elevado que nos dias de hoje é aberto a população durante todo o domingo e aos sábados a partir das 15h, já é consolidadamente uma área de lazer da população paulistana e terá agora o apelido dado pela mesma, oficializado por um projeto de Lei.
Aline Cavalcante
Mercado de Pulgas
Todos os finais de semana, e as noites durante a semana quando o local fecha para os carros às 21h30, o elevado se torna um parque de concreto. As quatro vias que seguem por 2,8 quilômetros, antes ocupadas por uma pequena porcentagem da frota de automóveis da cidade de São Paulo (No horário de pico da manhã, entre 7h e 10h, passam pelo Minhocão cerca de 18.800 veículos. No horário de pico da tarde, entre 17h00 e 20h00, são cerca de 12.800 veículos. A medição de fluxo é realizada pela CET de segunda a sexta-feira), se tornam ciclovia, mesa de piquenique e calçadão. O colorido das plantas dos parques, dão vez as cores dos grafites, das pessoas e suas felicidades.
Nesse domingo, 16 de agosto, enquanto na Avenida Paulista alguns (repito: alguns) clamavam pela volta da ditadura militar, muitos ocupavam o Minhocão com a perspectiva de quem vê a cidade para pessoas. O elevado que todos os dias recebe alguns comerciantes, foi quase totalmente ocupado por mesas coloridas dos mais diversos produtos na festa do Mercado de Pulgas.
Tinha skate artesanal, disco de vinil, roupas diferentes, sapatos, brincos coloridos, quitutes dos mais diversos sabores e muito comércio do olho no olho, que como disse um amigo: Dá vontade de distribuir dinheiro!
Thiago Benicchio
Roda de Capoeira
E para além das compras, o Minhocão foi palco, como usualmente é, de diversas manifestações de cultura. No fim da tarde, cada aglomerado musicalizado era uma festa diferente, parecia uma rua badalada aberta e acessível, sem mínimo para entrar ou consumir.
Esse domingo me fez enxergar com mais nitidez duas cidades, aquela que vive com saudades do velho que atende a felicidade de poucos e ao sofrimento de muitos e aquela que sorrindo ocupa o que é de todos, para todos. As praças e cruzamentos, as ruas e avenidas, o beco, é tudo nosso! Se por décadas a rua foi perigosa para as pessoas, é com essa nova brisa que abrimos a porta do elevador e descemos de nossos privilégios para a ver o sol de baixo e mais de perto.
Boa rua para todos!