O que esperar do ciclismo brasileiro em 2016? Nada!
Temos a política monoteísta em relação ao futebol, que cega os investidores, quer eles sejam públicos ou privados.
Faltando um ano para a Rio 2016, o que podemos esperar do ciclismo Olímpico do Brasil? NADA!
Exceção feita a Renato Rezende, do BMX, atleta talentoso de muita garra, que figura no Top 10 do mundo, não há absolutamente nada a esperar de nosso ciclismo na Rio 2016.
Veja aqui o depoimento de Renato Rezende logo depois de ser eliminado da bateria final dos últimos Jogos Olímpicos, devido a uma queda logo na primeira curva:
O que poderia ter sido um consolo e um importante legado desses Jogos que vão nos custar muito a serem quitados teriam sido escolas de BMX, satélites à Vila Olímpica, destinadas a formar cidadãos e fomentar a prática entrada do ciclismo na tenra idade. Isso não passou de uma proposta de Paulo Cotrim, que diferente daqui do Brasil, na Inglaterra foi um dos principais articuladores desse projeto, que é realidade.
Veja aqui os vídeos de Paulo Cotrim em ação, o brasileiro que capitaneou o principal legado do ciclismo da Londres 2012:
Desde então, a capital britânica recebe um evento anual em agosto, o London Ride, um mega-passeio/competição pelas ruas da cidade, ao lado de milhares de ciclistas comuns. A cidade para para as bicicletas.
Projeto idêntico ao da 9 de Julho, aqui em São Paulo capitaneado pela Fundação Casper Líbero, que esse ano conseguiu trazer de novo o evento as ruas. Considero esse episódio tão importante quanto ao da inauguração da Ciclovia da Paulista, pois aqui nesse país, os eventos de ciclismo de rua são proibidos ou taxados de tal maneira pelo poder público, que os inviabiliza.
Como pode o ciclismo de estrada se desenvolver em um país que, além de manter impune os criminosos de trânsito, cobra imensas fortunas para que as provas de estrada aconteçam?
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O ciclismo de pista então é outra piada, sem nenhuma graça. Ainda em 2012, portanto a tempo de se obter resultados, empresários brasileiros, entre eles João Paulo Diniz e Eduardo Musa, alocaram uma soma considerável de recursos através da LiveWright para tentar ao menos trazer uma medalha no ciclismo de pista.
Importante saber que o ciclismo é o esporte que mais medalhas distribui nas Olimpíadas. São 55 no total; 18 de ouro, sendo 10 destas no ciclismo de pista.
A LiveWright contratou o técnico inglês Simon Jones, responsável pelo resgate do ciclismo britânico, que em Londres obteve 12 medalhas, sendo 8 de ouro. Simon à época havia sido contratado pela Austrália pelo mesmo motivo e a equipe desse país trouxe 6 medalhas em Londres 2012.
Simon Jones esteve aqui no Brasil, no então Velódromo do Rio de Janeiro e falou um pouco sobre o que é necessário para se obter resultados.
Intrigas políticas aliadas a especulação imobiliária e o único velódromo indoor do Brasil, construído para os Jogos Panamericanos de 2007, foi condenado cinco anos depois. Sem padrão para os Jogos Olímpicos, a decisão de destruí-lo chegou 2012 e a equipe da LiveWright, sem onde treinar, foi desfeita no ano seguinte.
Relembre essa história neste vídeo, com entrevista de Simon Jones:
Esse velódromo já foi uma epopeia, era para ter sido desmontado logo após 2007, graças a pressões em especial de Ieda Botelho, então da Federação Carioca de Ciclismo.
Hoje, uma outra equipe de ciclismo de pista está em treino na Suiça e, por vezes, nós jornalistas recebemos releases enaltecendo os feitos desses atletas, mas de fato não acredito que tenhamos qualquer resultado no velódromo da Rio 2016. Espero muito mesmo que eu esteja errada.
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No Mountain Bike, o cenário não muda muito. Apesar de termos Henrique Avancini correndo as provas internacionais, juntos a principal da Cannondale, se a nossa melhor colocação ficar entre os 20 primeiros já teremos motivo de festa.
Esporte de primeiro mundo?
Não imaginem vocês que para ter sucesso em ciclismo é preciso ser um país de primeiro mundo. Mirem-se na Colômbia, um país que luta contra o narcotráfico, violência, pobreza…enfim, um país bem terceiro mundo como nós, mas que em todos os pódios de um Panamericano de MTB lá estava representado.
Em Londres-12, os colombianos somaram três medalhas no ciclismo, sendo o melhor resultado o ouro de Mariana Pajón no BMX. Rigoberto Urán ficou com a prata na estrada, enquanto Carlos Oquendo levou um bronze no BMX.
Isso sem falar em Nairo Quintana, principal nome daquele país no ciclismo de estrada, primeiro sulamericano a vencer o Giro d’Italia e que bateu na trave no Tour de France deste ano com a segunda colocação na geral.
Qual o motivo de sermos tão pífios no ciclismo?
Entre vários fatores, de inexistência de políticas públicas aliadas à impunidade dos crimes de trânsito, temos a política monoteísta em relação ao futebol, que cega os investidores, quer eles sejam públicos ou privados.
Só para dar um exemplo, um único delator do esquema FIFA concordou em devolver 151 milhões de dólares para falar do esquema CBF e FIFA. Com tanta corrupção, não há como sobrar troco algum para qualquer outro esporte a não ser para o futebol.
E aqui há de se enfatizar que é o futebol masculino de alto rendimento apenas, que não forma cidadãos…
Portanto corrupção para a manutenção do circo é o mal do ciclismo.