O caminho de Froome até o bicampeonato no Tour de France
Muito superior aos adversários na estrada e bastante questionado fora dela. Assim Christopher Froome chegou ao seu segundo título do Tour de France neste domingo (26).
Muito superior aos adversários na estrada e bastante questionado fora dela. Assim Christopher Froome chegou ao seu segundo título do Tour de France neste domingo (26). Para ser o novo dono da camisa amarela, o britânico nascido no Quênia deixou para trás outros nomes de peso, como Alberto Contador, Nairo Quintana e Vincenzo Nibali.
Apesar dos prognósticos indicarem para um duelo acirrado entre eles, Froome teve a liderança pouco ameaçada pelos rivais, mas viu nas redes sociais e na imprensa o seu pior inimigo: boatos e teorias de doping criaram um clima de incertezas sobre o desempenho do atleta da Sky, que ainda precisou lidar com xingamentos e até agressões por parte de espectadores durante a corrida.
Campeão em 2013, Froome ao menos não teve de encarar o mesmo azar do ano passado, em que teve vários problemas e acabou abandonando a prova mais importante do calendário do ciclismo mundial.
De amarelo no início
Desta vez, a sorte deu as caras já na segunda etapa. O que deveria ser mais um dia de atenções voltadas aos velocistas em terreno plano acabou se transformando num problemão para dois dos principais adversários de Froome. Com chuva e muito vento, Nibali e Quintana perderam mais de um minuto em relação ao britânico.
Já a superioridade de desempenho frente aos rivais teve seu primeiro capítulo na subida do Mur de Huy, um dia depois. Outro postulante ao título, Alberto Contador não conseguiu acompanhá-lo e Froome só ficou atrás de Purito Rodriguez na etapa, assumindo assim camisa amarela pela primeira vez.
Daí para frente, ele só largou a liderança nas duas etapas seguintes, enquanto Tony Martin viveu seu momento de glória antes de abandonar a competição por ter quebrado a clavícula numa queda. Só que Christopher Froome queria merecer vestir “le maillot jaune”.
Primeira montanha: adversários comem poeira
E foi na décima etapa que ele assombrou os concorrentes. Logo na primeira disputa em montanha, nos Pireneus, Froome impôs um ritmo impressionante para subir La Pierre-Saint-Martin, venceu a etapa e abriu uma vantagem significativa sobre todos os principais adversários. Quintana, que melhor pôde perseguí-lo, perdeu mais de um minuto. Nibali, então, ficou 4 minutos para trás. Assista de novo aqui:
“Foi inacreditável, eu realmente não conseguia acreditar quando os grandes nomes foram ficando para trás”, contou Froome. O problema é que parte da imprensa francesa e muitos fãs também não acreditaram.
Teorias de doping e ofensas à beira da pista
Com tamanha superioridade, Froome começou a enfrentar acusações de doping e passou a ser hostilizado durante as corridas. “Um espectador jogou um copo de urina na minha cara e gritou: ‘Dopado!’. Foi extremamente errado em muitos níveis diferentes. Estou muito desapontado. Acho que muito da cobertura da prova está sendo bastante irresponsável. Eu culpo essas pessoas por isso, e eles sabem quem são”, relatou o britânico na décima-quarta etapa.
Nos dias seguintes, até o banido Lance Armstrong apareceu para dar um pitaco no assunto, fazendo mea-culpa e dizendo que boa parte da culpa pelo ciclismo enfrentar essa nuvem de dúvidas era dele.
Mesmo com o passaporte biológico e exames durante o Tour em ordem, a Sky também decidiu tornar públicos os dados de potência do ciclista britânico para abafar a polêmica.
Administrando nos Alpes
E se as teorias sobre doping não derrubaram Froome, a única chance de tirar o título dele estava nas paisagens mais clássicas do Tour de France. Como as principais montanhas dos Alpes franceses foram guardadas para a última semana de Tour, os rivais mantiveram a esperança até o final.
Mas aí é que o campeão mostrou todo o seu lado pragmático. Froome pedalou “com o regulamento embaixo do braço”, administrou a vantagem subida após subida e só foi realmente pressionado nas duas últimas etapas de montanha. Na icônica Alpe d’Huez, Nairo Quintana deu a última carta, também insuficiente para tirar o bicampeonato das mãos do ciclista da Sky.
Aos 30 anos, Froome terminou os 3360 quilômetros de Tour de France de braços dados com os companheiros de equipe em 86h46min14seg, 1min12 à frente do colombiano. Alejandro Valverde (Movistar) completou o pódio na terceira colocação.
“A camisa amarela é especial, muito especial e eu entendo plenamente o significado histórico dela. Estou muito feliz por vencer e quero dizer que vou sempre respeitá-la, nunca a desonrarei”, disse Froome no pódio após agradecer equipe, dirigentes e família. Assista a um resumo em vídeo do caminho de Froome até o título: