Rio de Janeiro: com crescente número de roubos de bike, algumas dicas valiosas
Tudo isso é extremamente frustrante, mas ao invés de choramingar , prefiro sugerir aos meus colegas ciclistas no Rio de Janeiro que tomem algumas providência.
Sou bike maníaco há muitos anos, e vejo com muita preocupação a escalada dos roubos de bike no Rio de Janeiro. Nosso distinto prefeito, que só enxerga aquilo que lhe interessa, ao que tudo indica, está mais preocupado em embelezar a cidade para os futuros visitantes da Rio 2016, só esquecendo de um pequeno detalhe: a atual insegurança do Rio assusta os visitantes.
Além disso, turistas que passarem por esta experiência desagradável de ter suas coisas roubadas, provavelmente não voltarão. A violência é um fardo das grandes metrópoles, não é uma exclusividade do Rio de Janeiro, mas o descaso com os ciclistas cariocas está beirando o insuportável.
A situação chegou ao absurdo total: roubaram o carro de um ciclista no estacionamento de um McDonald´s em um bairro da zona norte, com um detalhe adicional: o carro levado era adaptado para deficiente, não pouparam nem a cadeira de rodas e a handbike de competição do motorista.
A handbike tinha vários equipamentos caros (roda de carbono, componentes SRAM, etc…). Peraí. Deixa eu ver se entendi direito: roubaram o carro, a cadeira de rodas e a handbike de um cadeirante? Até para crueldade existe um limite, os ladrões neste caso se superaram….
Outra “novidade” neste assunto são os roubos ocorridos na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, onde os ciclistas perderam as bikes para ladrões munidos de facas. Na grande maioria dos casos, crimes cometidos por menores de idade.
Tudo isso é extremamente frustrante, mas ao invés de choramingar, ficar com raiva e pedir que as autoridades façam a sua parte (já que não vão fazer mesmo…), prefiro sugerir aos meus colegas ciclistas no Rio de Janeiro que tomem as seguintes providências:
– Coloque a bike no seguro, desde que o preço pago pela bike compense (normalmente compensa para bikes com preço acima de 2 mil reais). Basta fazer uma busca no Google e identificar empresas seguradoras que trabalham com esta modalidade. O seguro de uma bike de 2,5 mil reais custa em torno de 400 reais por ano, pagos parceladamente.
– Não ande sozinho, e use os equipamentos de segurança (capacete, luva, óculos). Evitem a Lagoa Rodrigo de Freitas nas primeiras horas do dia e durante a noite.
– Não tente se defender com “armas alternativas”, como spray de pimenta e outras coisas do tipo. Os ladrões normalmente vem em grupos de 2 ou 3, e você só vai conseguir atingir com ospray o que estiver mais próximo. Andar armado, nem pensar. Lembre-se, você não é o Chuck Norris nem o Bruce Lee. Nunca reaja a uma tentativa de roubo de bike. Sua vida é mais importante.
– Desconfie de preços muito baratos de equipamentos e bikes anunciados em sites da internet. Quando está muito barato, normalmente é mercadoria roubada. Há algum tempo atrás vi um anuncio de um grupo SRAM por menos de 700 reais (pedivela inclusa). Tá na cara que é roubo!
Se existe roubo de bikes e peças, é porque tem gente que compra. Simples assim.
– Uma dica que aprendi por experiência própria: use sua visão periférica constantemente quando estiver pedalando. Traduzindo: preste atenção o tempo todo no seu trajeto e observe tudo ao seu redor (um cruzamento de ruas, um ponto de ônibus, um taxi parado, pessoas andando na calçada, esportistas correndo, cachorros sem coleira, pessoas atravessando a ciclovia fora da faixa de pedestres, etc…). Não ande de bike como quem passeia no shopping. Ande como quem pilota um avião, não pela velocidade, mas sim pela atenção aos indicadores de vôo.
– Se gosta de escutar música quando pedala (o que não é recomendável, por sinal), ponha num volume baixo e nada de usar esses headphones “in-ear” – aqueles que fecham inteiramente o canal auditivo -, pois você não escuta os sons ambientes, como uma buzina, alguém te chamando, etc….
– Sempre que possível, ande numa velocidade acima da sua média, desde que com segurança para você e para os outros ao seu redor. Quem anda devagar vira alvo de ladrões.
– Faixa de pedestres nas ciclovias: por favor, vamos respeitar, afinal, as pessoas precisam atravessar a rua! É bom também lembrar que a maioria das ciclovias no Rio de Janeiro são compartilhadas (bikes e pedestres).
– Não pedale nas calçadas, a menos que seja extremamente necessário. Já vi vários atropelamentos acontecerem dessa forma. Calçada é lugar de pedestre. Preferencialmente, desmonte da bike e empurre-a até o seu destino.
– Se precisar parar pra fazer alguma coisa (pneu furado, beber agua, fazer xixi, etc….), procure sempre um local onde pessoas estejam por perto. Quanto mais gente melhor.
– Leve sempre alguma tranca com você para prender a bike, ninguém está livre de precisar parar por algum motivo.
– Para fazer passeios de longa distância (20kms ou mais), aprenda a consertar pneu furado e remover elos da corrente. Leve o material necessário para esses reparos (bomba, reparos e saca-corrente), seus documentos e uma quantia em dinheiro para eventualidades. Uma pequena bolsa de cintura já quebra o galho pra transportar esse material. Um kit de primeiros socorros, desses bem simples que vendem em farmácias, também é uma boa idéia.
– Quando for preciso pedalar na pista de rodagem dos carros, permaneça sempre no lado direito da via, no sentido do fluxo de tráfego, e evite pedalar próximo dos ônibus (lembre-se que o motorista não enxerga o ciclista pelo espelho retrovisor). Infelizmente, ainda vivemos num país onde o ciclista na via pública é um corpo estranho. Rio de Janeiro não é Amsterdam.
– Quando for roubado, não deixe de registrar o Boletim de Ocorrência (BO) na delegacia mais próxima. É chato, demorado, burocrático, etc…, mas todos se beneficiam com isso: a indústria de bikes, os órgãos de segurança pública, e quem sabe você dá sorte e acha sua bike.
– Toda bicicleta comercializada legalmente tem uma numeração no quadro, que normalmente é uma mistura de letras e numeros. Normalmente, fica embaixo do movimento central. Se você não tem a nota fiscal ou se esse numero não estiver na nota fiscal, anote e guarde em local seguro, pois esse é o único dado que pode comprovar a sua propriedade. Um BO feito com o numero do quadro aumenta as chances da sua bike ser encontrada.
Além dessas sugestões, lembre-se sempre que somos minoria no trânsito, e precisamos, mais do que todos os outros veículos, praticar a pilotagem defensiva. A bike é o elo mais fraco da cadeia de veículos. Fato comprovado: roubos (e também os acidentes em geral) acontecem em momentos de desatenção. O fator surpresa é a vantagem do ladrão. Quem já foi roubado sabe: a desatenção foi o motivo do roubo em 99% dos casos.
E por favor, se precisar falar no seu telefone enquanto pedala, pare a bike e faça isso com segurança. Já basta ver as barbaridades que motoristas de carros e motos fazem com seus celulares….
Boas pedaladas!