Mitos da bike: Julgamento de um Ciclista
Releitura do julgamento de Sócrates, descrito no livro "Apologia de Sócrates" de Platão.
Muitos me conhecem como Sócrates, mas poucos sabem a minha verdadeira história. Se eu tive um grande objetivo na vida, era uma educação menos elitista; onde a dialética, o diálogo eram mais importantes do que as pretensas verdades, super-valorizadas pelas tradições da época.
Aparentemente o senso crítico era visto como algo execrável; algo que fugia da concepção tradicional de educação, em que as verdades eram proferidas pelos professores/autoridades; e os alunos/aprendizes simplesmente deveriam assimilar. O meu senso crítico me dizia que, este modo de educar, faz do conhecimento algo estático, impossível de evoluir, ou se adaptar; o que acredito ser a essência de um bom aprendizado.
Edu Cole
Releitura da obra “A Morte de Sócrates”. Quadro de David, concluído em 1787
Por algum tempo consegui aplicar a filosofia educacional da dialética, com os meus conterrâneos; mas os mestres sofistas, a elite educacional da época, perderam a paciência e criaram uma assembléia para decidir se estava ou não corrompendo os jovens, com minhas ideias heréticas e pouco ortodoxas.
Eu simplesmente defendia o uso do espaço público com mais respeito e menos convicção em verdades aceitas por uma minoria; apesar de assimiladas pela maioria. A maioria dos presentes na assembléia, viam no carro o símbolo de uma boa educação e usavam a retórica para propagar esta pretensa verdade. Enfim uma educação que está longe de ser considerada um bem comum; que negligenciou inovações e evoluções do conhecimento ao longo da história.
Como filósofos, denominávamos amigos da sabedoria, mas mesmo assim alguns de nós insistiam em valorizar coisas, que não necessariamente eram um bem comum. Mas eu e meus amigos acreditávamos que a sabedoria e o bem comum eram coisas correlatas; por isso resolvemos debater com o resto do grupo quais as reais noções virtuosas por trás do uso do carro e como isso se relaciona com o conceito de sabedoria. Apesar de conseguir argumentar contra todas as acusações proferidas fervorosamente no julgamento e de me oferecerem alternativas que pudessem me salvar da pena de morte; preferi me manter fiel à ideia do bem comum, não aceitando as verdades que eles defendiam, por isso fui obrigado a tomar um cálice de veneno (cicuta), para deixar claro o quanto acreditava no bem comum da dialética na educação; fato lamentado tanto por meus algozes, quanto por meus amigos.
Me despedia da vida com uma única certeza: a dialética/diálogo, geram respeito, a essência de uma vida melhor para todos (sabedoria e bem comum).
“Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto velhos como novos, de que cuideis menos de vossos corpos e de vossos bens do que da perfeição de vossas almas, e a vos dizer que a virtude não provém da riqueza, mas sim que é a virtude que traz a riqueza ou qualquer outra coisa útil aos homens, quer na vida pública quer na vida privada. Se, dizendo isso, eu estou a corromper a juventude, tanto pior; mas, se alguém afirmar que digo outra coisa, mente” (trecho retirado do livro “Apologia de Sócrates”, escrito por Platão, descrevendo o julgamento de Sócrates)