"Bicicletada Espacial": bike como meio de transporte no passado, presente e futuro
Interessante ressalvar, que todo esse ideal do uso da magrela, já vem sendo difundido há tempos em nosso planeta! Infelizmente, ainda não é algo totalmente compreendido por algumas pessoas.
Muitas obras literárias e cinematográficas, que trataram sobre o futuro, trouxeram em seus teores grandes inovações sobre comportamento da humanidade, tecnologias e vivências num tempo distante. Algumas delas foram tidas como revolucionárias e inovadoras, outras, no entanto, receberam muitas críticas.
Ressalva-se que, uma parcela considerável de livros e filmes antigos, com temas futurísticos, apresentou ideias que se confirmaram ao longo dos anos. A genialidade e a visão de seus autores foram alguns dos ingredientes que contribuíram para que isso acontecesse. Exemplificando, cito, inicialmente, Julio Verne. Ele anteviu em seus trabalhos a existência de viagens espaciais, satélites e submarinos. Outro exemplo é George Orwell e seu romance “1984”, escrito em 1948, onde previu as paranoias que se tornariam a realidade com as câmeras de vigilância instaladas por todos os cantos.
Já no livro “2001”, produzido em 1968 por Arthur C. Clarke, que deu origem ao filme de Kubrick, um dos personagens utiliza um computador nomeado de Newspad, usado para exibir conteúdos como se fosse uma revista ou um jornal. No filme “Metrópolis” de 1927, dirigido por Fritz Lang, o uso de videoconferência chama a atenção desta verdadeira arte do cinema mudo.
Ora, boa parte do que essas obras e muitas outras mostraram no passado pertence ao mundo atual! Salienta-se aqui, que muitos conceitos apresentados por elas, chegaram a ser ridicularizados quando foram lançados.
Bem, meu interesse é falar sobre outro futurista, que foi também escritor e bioquímico: Isaac Asimov. Ele redigiu em meados dos anos 70 o ensaio “Como colonizar os céus”. No texto, Asimov menciona os conceitos do astrofísico Gerard O’Neill, autor do livro “The High Frontier: Colônias do Homem noEspaço”, que idealizava um dia a necessidade dos humanos viverem em colônias fora da Terra. Asimov compactuava com os pensamentos de O´Neill e escreveu reflexões sobre isso em seu ensaio; vejamos algumas delas:
“(…) Que é que faremos com nós todos quando agora, com os nossos simples 4 bilhões, achamos que o esforço para alimentar e dar energia à população está destruindo o planeta que nos alimenta e nos fornece energia?
(…) Uma vez que não há novas terras dignas de serem ocupadas na Terra, teremos de mudar-nos para novos mundos e colonizar os céus. Não, não a Lua. O professor Gerard O’Neill, sugere dois outros lugares, para começar – lugares tão distantes da Terra como a Lua, mas não ela.
(…) O’Neill sugere a construção de colônias espaciais que se tornariam partes permanentes do sistema Terra-Lua. O aspecto delas são de longos cilindros concebidos para conter seres humanos, com um complexo sistema de sustentação da vida: facilidades para a produção de alimento, atmosferas de manutenção, reciclagem de dejetos e assim por diante (…)”
Imagem feita para a NASA pelo ilustrador Don Davis/Space Studies Institute
Colônia espacial conceituada por Gerard O’Neill, batizada de “Island One”
Quanto ao transporte usado “para o chão” da colônia, o texto de Asimov sugere as bikes:
“(…) Ao longo do tempo, será perigoso para o corpo humano o efeito gravitacional flutuante? Não temos modo de saber isso, por enquanto, mas, no mínimo a atração gravitacional se reduzirá com a altura, e isto poderá ter suas vantagens.
(…) As pequenas distâncias nas colônias espaciais tornarão desnecessários poderosos sistemas de transporte. As bicicletas seriam o ideal para o chão; e, com a redução da gravidade, os planadores seriam perfeitos para o transporte aéreo (e para diversão) (…)”.
Ilustração de Don Davis. Fonte: Space Studies Institute
Vila dentro da colônia espacial “Island One”, idealizada pelo professor Gerard O’Neill. Destaque para as bicicletas como meio de transporte
Há mais ou menos quarenta anos, essas concepções foram expostas. Atualmente, já existem alguns projetos de colônias espaciais, como o Mars One. No entanto, destaco aqui a menção do uso das bicicletas no texto em análise.
Como vimos, Asimov, junto às ideias de O´Neill, sugeriu a utilização de bikes dentro de uma complexa habitação fora da Terra. Este pensamento além de estar ligado às pequenas distâncias que existirão dentro dela, também visa o uso de um veículo minimalista que ocupe pouco espaço. É nítido também, o interesse por um transporte não poluente, prático e dinâmico, que fomente a atividade física dos colonos.
Além disso, verifica-se no texto, que há um preceito de sustentabilidade no plano apresentado. Nesse sentido, o uso da bicicleta tem papel fundamental. Seja para o transporte de dejetos recicláveis, seja pelo fato da mesma não poluir, o que contribui para a produção de alimentos mais saudáveis. O resultado disso é uma boa qualidade de vida em todos os sentidos.
No entanto, qual será o exato nível gravitacional da colônia para que tudo funcione como planejado? No futuro distante, os humanos irão realmente habitar algum lugar fora da Terra? Enfim, acredito que apenas o decurso do tempo poderá responder esta e outras centenas de questões.
Interessante ressalvar, que todo esse ideal do uso da magrela, já vem sendo difundido há tempos em nosso planeta! Infelizmente, ainda não é algo totalmente compreendido por algumas pessoas.
Hoje, estamos na Terra e talvez não iremos testemunhar essa mudança de “casa”. Na verdade, nem sabemos ao certo se ela vai ocorrer. Apesar das colônias espaciais ainda não fazerem parte da nossa vida, as bikes são mais do que nunca uma realidade! Nasceram no passado, estão cada vez mais fortes no presente, e serão nossos veículos no futuro, seja aqui na Terra ou até mesmo numa comunidade espacial, quando então, Asimov e O´Neill entrarão, definitivamente, para o seleto grupo composto por Julio Verne e tantos outros célebres futuristas, que um dia foram questionados ou chamados de lunáticos…
Ilustração artística de Amelia Green Hall