Eles não entenderam o conceito de ciclovias e ciclofaixas
As ciclovias e ciclofaixas são sinônimo de segurança para quem de fato pedala pelas ruas da cidade. Lugares que antes não possuíam vias exclusivas para ciclistas eram perigosos para nós.
Antes mesmo de 1992, quando projetos de malha cicloviária surgiram para a cidade de São Paulo, milhares de ciclistas paulistanos já pedalavam pelas ruas da capital e lutavam por uma melhor estrutura cicloviária, que proporcionasse mais segurança e dignidade àqueles que se dispõem a colocar sua vida em risco por acreditar numa cidade melhor e mais habitável.
Reynaldo Berto
Os ciclistas de São Paulo tem direito a segurança das ciclovias
De lá pra cá, muitos prefeitos prometeram a construção de alguns quilômetros de ciclovias. Paulo Maluf foi o primeiro deles, com o Projeto Ciclista, 300 quilômetros foram prometidos, dos quais pouco mais de 5 Km foram entregues nas ruas da cidade e mais 26 Km, dentro de parques. Seu sucessor e já falecido, Celso Pitta, continuo com praticamente o mesmo material de campanha do Projeto Ciclista, mas nada foi feito. No meio do caminho, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) retrocedeu a mobilidade por bicicleta de maneira trágica, apesar de seus investimentos no transporte coletivo, ela não só deixou de investir na malha cicloviária, mas também foi uma grande parceira do desenvolvimento da malha automotiva, construindo novas alças de acesso em marginais, que privam a acessibilidade de ciclistas e pedestres, além do aumento da velocidade nas vias.
José Serra fez um curto mandato na Prefeitura de São Paulo, renunciando-o para se candidatar a governador. Eleito e já no âmbito estatal, Serra construí as ciclovias do Rio Pinheiros e da Radial Leste, enquanto seu sucessor na prefeitura da capital, Gilberto Kassab, implementava a há anos prometida Ciclovia da Faria Lima. Em 2012, a cidade contava com 63 Km de vias destinadas aos ciclistas, incluindo as feitas dentro de parques.
Arquivo pessoal de Renata Falzoni
Material de apresentação do Projeto Ciclista, já na gestão de Paulo Maluf as ciclovias estavam no papel
Por fim, Fernando Haddad ganhou as eleições de 2012 com a bandeira por mais mobilidade urbana, na época, o plano CicloviaSP já prometia 400 Km de malha cicloviária, incluindo ciclovias e ciclofaixas. Mas, o que são afinal essas ciclovias e ciclofaixas?
Basicamente, ciclofaixas são espaços pintados no asfalto, sinalizando onde os ciclistas devem passar, essas não são separadas das faixas dos automóveis por obstáculos, como as famosas tartarugas, canteiros, calçadas, muretas ou meio fio. Já as ciclovias são trechos segregados das vias dos carros, com todos esses possíveis obstáculos e teoricamente, é também proibida a circulação de pedestres. Essa é a definição que se tem no dicionário, a dos ciclistas vai muito mais além.
Independente dos buracos, falhas de pintura, acúmulo de água e até possíveis sacos de lixo, que de fato precisam ser consertados com a conclusão e manutenção do projeto, as ciclovias e ciclofaixas são sinônimo de segurança para quem de fato pedala pelas ruas da cidade. Lugares que antes não possuíam vias exclusivas para ciclistas eram perigosos para nós, era preciso se colocar no meio das faixas, suportar as finas, fossem elas “educativas” ou por pura falta de atenção, fechadas sem sinalização e tudo mais que acontece com um ciclista em meio a carros com motoristas desatentos.
As ciclovias e ciclofaixas trouxeram em primeiro lugar mais segurança, mas também trouxeram muito mais liberdade, visibilidade e dignidade. Coisas que faltavam antes de alguém ter a coragem de colocar em prática algo que é um direito do cidadão. Ciclista também pago imposto, trabalha, tem obrigações e família, somos nós que temos que dizer se ciclovias, mesmo com buracos, não são melhores do que ciclovia nenhuma. E nós dizemos: São melhores! São essênciais! O projeto precisa ser melhorado e não paralisado.
E cá entre nós, o estado de nossas calçadas são lamentáveis, a grande maioria não possui nem mesmo rampa de acesso, não são só ciclistas que sofrem com isso, pensem vocês nos cadeirantes e em todas as pessoas com dificuldade de acesso a degraus. Você já viu o Ministério Público ou o Tribunal de Justiça fazer campanha por planejamento das calçadas? Eu não e isso sim é falta de segurança.
É inadmissível que a essa altura do campeonato uma promotora diga que uma via como a Avenida Paulista não deva ter ciclovia pois já tem metrô e um corredor de ônibus. O que ela quer dizer com isso, que bicicleta não é meio de transporte? Bicicleta é sim meio de transporte e é mais, é a solução do transporte urbano. Não existem mais meios de se insistir numa política de mobilidade que coloca a frente, sempre, o interesse de menos de 20% da população que se locomove de carro.
Mais de 80% do espaço público na capital é destinado aos carros, e isso incluem os milhares de trechos de calçadas que são entradas pra garagem e que por muitas vezes a preferência nunca é dada ao pedestre ou ciclista. Enquanto decisões como essas do Ministério Público e do Tribunal de Justiça se mantiverem, essa realidade nunca irá mudar e a cidade de São Paulo sempre marginalizará mais de 80% da população, pessoas que andam de transporte público, bicicleta ou a pé. Essa é a hora de decidirmos o que queremos para nós, uma cidade acessível e para todos, ou uma cidade que tem o trânsito, ou melhor os motoristas, como um dos maiores agentes da mortalidade urbana.