Luta e luto no dia Internacional da Mulher
Apesar das mulheres serem 51% da população do Brasil, não são elas a maioria nos postos de comando, no entanto a proporção de mulheres que se destacam no cenário da luta por conquistas é muito maior.
Apesar das mulheres serem 51% da população do Brasil, de longe não são elas a maioria nos postos de comando. Olhando as estatísticas do IBGE, o poder feminino vem crescendo mesmo é nos lares brasileiros, somente na região sudeste, 46,4% destes, na região urbana estão sob o comando das meninas.
E se formos olhar para a mobilidade em bicicleta, historicamente elas necessitam de estruturas segregadas para sairem às ruas, pois é necessária a sensação de segurança, caso contrário mulheres não se arriscam. E isso tem a ver com a conservação da espécie. Para procriar e sobreviver, os humanos são muito dependentes das mulheres, portanto elas por instinto se preservam. É possível repovoar o mundo com poucos homens, mas há que haver muitas mulheres para tal.
A proporção de mulheres ativistas no ciclismo no entanto, não corresponde a esmagadora minoria que elas são nas ruas. As contagens apontam uma média de 25% no máximo, disputando espaço com motoristas, o mesmo nas competições, até nas internacionais o número de mulheres é pequeno; no entanto a proporção de mulheres que se destacam no cenário da luta por conquistas na mobilidade urbana, é muito maior.
Não tenho como mensurar, mas a percepção aponta que em todas as entidades que estão no front ou nos bastidores de nossa luta, todas elas tem alguma mulher remando forte.
Temos que reverenciar meninas como a Tereza D’Aprile do Saia na Noite que há 20 anos leva as mulheres de todas as idades pedalar nas noites de SP; a Aline Cavalcante do oGangorra, que agita todas ao lado da Talita Noguchi do Las Magrelas; a Silvia Ballan que ao lado de sua filha Nina desembaraça a mobilidade de mães em bicicleta; as Meninas do Pedala Manaus; a Blé do Transporte Ativo, a Livia Araújo do Forum Mundial da Bicicleta, a Rachel Schein do Vá de Bike, a Natalia Garcia, a Evelyn Araripe, a Laura Sobenes, a Sabrina Duran, a Silvia Oliveira, a Bia Ferragi, a Vevê Mambrini, a Rose do Casal 20, a Adriana Nascimento, que lá na década de 90 já dava show nas provas internacionais de ciclismo e atraiu uma centena de outras mulheres para a prática esportiva e competições; a Jaqueline Mourão, que foi top 5 no ranking da UCI modalidade Mountain Bike, que trabalhou muito para que a categoria feminino chegasse a um nível próximo ao dela, as meninas Fernandes de Goiânia, que no ciclismo de estrada sempre estiveram na ponta; a Silvia Nabuco, que depois de tantos anos no ciclismo hoje arrepia no surf de nas ondas gigantescas; a Andrea Marcellini, do A Hora do Blush que hoje trabalha na UCI justamente para trazer mais mulheres no ciclismo; todas essas mulheres doam-se em trabalhos voluntários para que mais e mais pessoas independente do gênero, pedalem.
Existem muitas outras (e já peço desculpas pois é impossível mencioná-las todas), no comando da luta pelos direitos de pedalar em segurança, uma delas é Sandra Eliza Beu, ciclista de Sorocaba, Gerente Metropolitana do Instituto Florestal, com quem pedalamos nas trilhas do Parque do Juquery em Franco da Rocha.
Entre muitos trabalhos em prol do ciclismo, como a abertura de vários Parques Estaduais para a prática do Mountain Bike, Sandra copilou um guia de MTB da região da APA Itupararanga, guia este que pode ser baixado nesse link:
Infelizmente Sandra deixou-nos esse sábado véspera do Dia Internacional da Mulher, enquanto pedalava na estrada próximo a Sorocaba.
Sobre os Dia Internacional das Mulheres:
Foi em 1910 na Dinamarca que decidiu-se que o dia 8 de março seria o “Dia Internacional das Mulheres”, uma homenagem às tecelãs que morreram carbonizadas no dia 8 de março de 1857 em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
A história é sinistra. Operárias de uma fábrica de tecidos entraram em greve, ocuparam a fábrica para reivindicar melhores condições de trabalho. Entre as demandas pedia-se a redução da jornada de trabalho de 16 horas para 10 horas, salários iguais aos dos homens, na época elas ganhavam 1/3 do salário para a mesma função e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.
A repressão em resposta foi violenta, as manifestantes foram trancadas dentro da fábrica, esta incendiada e aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas.
A data foi oficializada pela ONU no ano de 1975 e embora muito tenha se avançado na igualdade de gêneros, ainda falta muito (tudo) para a total inclusão das mulheres em direitos e deveres na nossa sociedade.