Pedalo na contramão e furo o farol vermelho sim! Mas quem não?
Muitas vezes atravesso o sinal vermelho, pedalo na calçada ou na contra mão e atire a primeira pedra o ciclista que nunca o fez.
Muitas vezes atravesso o sinal vermelho, pedalo na calçada ou na contra mão e atire a primeira pedra o ciclista que nunca o fez.
Quem disser que estou 100% errada é porque nunca pedalou como meio de transporte. E se insistir muito em querer comprovar a minha culpa e defender a minha condenação a morte, pode apostar que esse cidadão só vai de carro.
Essas atitudes tidas como “transgressoras da lei” são antes de tudo soluções que qualquer ciclista encontra para otimizar a sua energia e também para rodar em segurança por nossas cidades.
Repare bem, eu não disse que coloco a minha vida, muito menos a dos pedestres em risco. Faço tudo isso justamente para garantir a minha segurança, conforto e saiba que eu respeito de forma até exagerada a segurança dos pedestres.
Compartilhar é a regra, portanto não me incomodo nem um pouco em dividir as novas ciclovias com pedestres, cadeirantes, crianças, carrinhos de bebês, sk8tistas, idosos enfim, as ruas são para todos e o compartilhamento com sensatez e respeito é regra.
Arte de Reynaldo Berto
Agora falando das regras, as que estão vigentes têm o único propósito de facilitar a vida dos que estão em carros. Isso mesmo, as faixas de pedestres são para concentrá-los fora da rota dos motoristas, os semáforos são para que eles nunca atravessem as ruas quando precisam. O tempo de reação do semáforo de pedestre, sabe aquele tempo infernal entre o momento em que você aciona o botão “eu quero atravessar” e o momento em que o verde aparece é a prova cabal de que essas estruturas estão ali para assegurar o conforto dos que vão nos carros. Pois se fosse para os pedestres eles abririam em 10 segundos.
O tempo médio que eu contabilizei de vários semáforos de pedestres em SP gira em torno de 2 a 3 minutos de espera, um claro desrespeito ao direito de ir e vir que os pedestres têm, com preferência sobre todos os veículos.
Portanto, pedestre que se atira a minha frente em qualquer local da cidade, merece todo o meu respeito sim e eu pedalo a uma velocidade tal que eu consigo parar a qualquer problema que possa ocorrer.
Sei que muitos ciclistas não se comportam assim, mas deveriam. O problema destes não é o fato de eventualmente cortarem o sinal vermelho, ou pedalar na contra mão, ou na calçada. O problema é o desrespeito para com os pedestres.
Existem várias “lendas urbanas” quando se julga os ciclistas:
Lenda número 1. Capacete, luva óculos são obrigatórios. Tudo isso não vale nada se o motorista não respeitar. Assim, o principal equipamento de segurança do ciclista é a sua postura no trânsito e o bom senso do motorista.
Lenda número 2. Usar roupas claras. Bobagem, para ser bem visto a noite o importante é lanterna pisca pisca na frente e atrás e colete refletor.
Lenda número 3. O ciclista que passa no farol vermelho está sempre errado. Outro engano: Quando o ciclista está emparelhado ao lado de outros veículos no sinal vermelho, é inseguro ele largar emparelhado aos carros nessa hora. Em geral os motoristas afoitos e irritados por terem ficado no farol vermelho, não respeitam esse momento e colocam os ciclistas em risco espremidos na guia. Muitas vezes esse mesmo motorista larga e logo em seguida faz a conversão a direita. Essa é uma situação de altíssimo risco muito comum nas ruas do Brasil.
Devido a isso, em Paris o ciclista pode “furar o farol vermelho” sob seu controle e responsabilidade, para justamente não estar em situação de risco na hora da largada do farol verde.
Em São Paulo, muitas vezes o farol está vermelho para os motoristas e verde para os pedestres nos dois cruzamentos, é o momento pedestre.
Nesse momento é comum os ciclistas largarem na frente dos motoristas, aparentemente no farol vermelho. Nesse caso o ciclista deve dar total preferência aos pedestres que estarão atravessando a sua frente e na sua lateral. O pedestre muitas vezes cruza na diagonal, nesse momento o ciclista deve redobrar a sua atenção.
Agora os erros que os ciclistas de fato não devem cometer:
1. Passar sede ou fome. Desidratação é grave. Falta de energia também. No caso da hidratação o ciclista não deve sentir sede para beber água, deve sim estar sempre se re-hidratando. Ciclista desidratado perde a velocidade de reação, fica lento para se safar de um eventual desrespeito.
2. Bicicleta de tamanho errado. Uma bicicleta deve estar ajustada ao seu corpo, portanto esse ajuste é algo que se o ciclista não sabe fazer deve sim pedir ajuda de um bike fit.
3. Carregar muito peso no corpo. Alforges e bagageiros são equipamentos fundamentais para quem pretende se transportar em bicicleta. Carregar peso nas costas acarreta em uma conta que o ciclista vai receber algum dia na sua vida. O pagamento será dores nas costas.
4. Pedalar com pressa. Pressa e segurança no trânsito não combinam. Desatenção e cabeça pensando em problemas idem. Tem que pedalar com foco no que está rolando ao seu redor.
5. Imprudência. A prudência não significa obedecer 100% as regras de trânsito, até porque essas regras foram criadas mais para o conforto dos que vão em automóveis dos que para os que vão a pé ou de bicicleta. No entanto, prudência e sensatez determinam a segurança no trânsito.
Agora, se você acha tudo isso bobagem, atire suas pedras à vontade contra mim, contra nós ciclistas do campo virtual, mas não condene o próximo ciclista que cruzar a sua frente à morte. Ele pode ser seu filho!