O plano das bicicletas amarelas
Em Belo Horizonte, um grupo de pessoas se reuniu para implementar um sistema de bicicletas públicas para uso compartilhado durante o Festival de Inverno da UFMG de 2014.
Na Holanda da década de 60, um grupo de cidadãos, que se entitulavam os Provos, elaborou uma série de planos, os chamados Planos Brancos, que tinham como principal objetivo questionar, de maneira criativa e lúdica, os hábitos da sociedade de Amsterdã à época. Entre os diversos planos estava o das Bicicletas Brancas, que consistia, entre outras ações, em distribuir bicicletas brancas pela cidade para que as pessoas pudessem usá-las em seus deslocamentos urbanos e, assim, evitar o uso do carro dentro da cidade.
Depois de mobilizarem seus parceiros e articularem, os Provos conseguiram pintar 50 bicicletas de branco e distribuí-las pela cidade. Alguns dias depois, todas as bicicletas foram confiscadas pela polícia local sobre a justificativa de que, como não tinham dono, as bicicletas estimulavam o furto. Dessa ação dos Provos nasceu a a ideia e a prática de se ter bicicletas públicas para uso coletivo.
Cinquenta anos depois, em Belo Horizonte, um grupo de pessoas se reuniu para implementar um sistema de bicicletas públicas para uso compartilhado durante o Festival de Inverno da UFMG de 2014. Essa tecnologia social está funcionando desde o último dia 18 e ficará até o dia 26. Cerca de 35 bicicletas (majoritariamente amarelas) estão à disposição de quem circular dentro do Campus da UFMG, na Pampulha. As bicicletas foram doadas por terceiros ou compradas pelos organizadores do projeto. Com orçamento material inferior a R$ 2000,00, o plano das bicicletas amarelas virou ação.
A ideia e esse experimento coletivo perpssam uma nova possibilidade de movimentação, ocupação e compreensão do Campus pelos que lá estiverem. Ao término do Festival, as bicicletas serão doadas à Ocupação Rosa Leão, para ficarem à disposição dos moradores do local. Está ocupação é formada por milhares de famílias que decidiram não esperar a ineficiência pública no que tange às políticas habitacionais na cidade e estão construindo o direito que têm à moradia.
Na Ocupação, que fica na região Norte de Belo Horizonte, as bicicletas poderão dar uma nova dinâmica à vida dos cidadãos que lá moram no que tange às possibilidades de deslocamento pela cidade. Elas poderão fazer com que eles, moradores da Ocupação, rompam os limites estabelecidos pelo nosso modelo de desenvolvimento urbano rodoviarista, que expulsa os que têm menos recursos para cada vez mais longe das ofertas, serviços e equipamentos urbanos de acesso público (escolas, creches, hospitais, praças, parques e outros tantos). Com as magrelas, pessoas que hoje gastam boa parte de seus salários em transporte poderão se deslocar gratuitamente por uma cidade que cobra cada dia mais caro para que as pessoas circulem por ela.
O plano das bicicletas amarelas trouxe à Belo Horizonte, em pequenas pílulas, a compreensão do uso público não só do espaço, mas da matéria que se movimenta por ele. Do compartilhado. Do bem comum.
Saiba mais informações sobre o festival acessando http://46festivalufmg.wordpress.com/ ou https://www.facebook.com/festivalufmg.
1) Caso se interesse por saber mais sobre os “Provos” e seus planos brancos, leia Provos, do Coletivo Baderna. O livro está disponível em: http://pt.scribd.com/doc/203737342/Coletivo-Baderna-PROVOS.