ANÁLISE: 1 mês de bikes compartilhadas em BH
Nesta segunda-feira (07), o sistema de bicicletas compartilhadas de Belo Horizonte, o Bike BH, completa seu primeiro mês de funcionamento.
Nesta segunda-feira (07), o sistema de bicicletas compartilhadas de Belo Horizonte, o Bike BH, completa seu primeiro mês de funcionamento. Por conta do sistema ainda estar sendo instalado (4 das 40 estações estão funcionando), os dados disponíveis ainda não são suficientes para se fazer uma análise sólida sobre seu funcionamento (eficiência, eficácia e efetividade).
Cinco variáveis precisam ser levadas em consideração para relativizar tanto conjecturas positivas quanto negativas sobre o sistema:
1) A instalação do sistema coincidiu com o aumento expressivo de turistas na região onde as estação estão localizadas (região central da cidade).
2) Nesse período, um número alto de pessoas que se deslocam em Belo Horizonte (trabalho, escola, faculdade, e outros) está de férias devido à Copa do Mundo.
3) O sistema conta com apenas quatro das quarenta estações implementadas. Com ele em pleno funcionamento, ou seja, com a rede estruturada, poderá se compreender melhor o seu potencial.
4) A ausência de campanhas educativas e de promoção do sistema realizadas antes da sua chegada;
5) A falta de estrutura cicloviária conectada entre si e às estações pode colaborar para que menos pessoas optem por usar estas bicicletas nesse momento como opção viável e segura em seus deslocamentos.

Além de mostrar os resultados do uso das bicicletas durante esse mês, farei um breve histórico do processo de implantação das mesmas.
Histórico e contexto
Inúmeras cidades mundo afora, inclusive no Brasil, já implementaram seus sistemas de bicicletas compartilhadas e o resultado, via de regra, no primeiro momento, é um aumento significativo no número de viagens feitas por bicicletas.
Em setembro de 2013, a prefeitura de Belo Horizonte abriu edital para licitar a permissão de uso de espaço público compreendendo a instalação, manutenção e operação de rede de estação para retirada de bicicletas de uso compartilhado e disponibilização para o uso da população com exclusividade na exploração publicitária.
Depois de alguns meses de tramitação, a Serttel se tornou a licitante e, a partir de sábado, dia 7 de junho, iniciou a operação dos sistema de biciciletas compartilhadas em Belo Horizonte, em parceria com o Itaú.
A ideia e o sistema
A ideia dos sistemas modernos de bicicletas compartilhadas, baseados no uso coletivo deste modo de transporte, é muito boa e começou em Lyon, na França, em 2005. De lá para cá, centenas de cidades mundo afora implementaram sistemas semelhantes e, com eles, influenciaram positivamente o uso da bicicleta nelas.
Em Belo Horizonte, a rede cicloviária prevista é de 380 quilômetros até 2020. Até abril de 2014, a cidade conta com 70,42km, segundo dados oficiais da prefeitura. O Bike BH possuirá, até o final de 2014, 40 estações e 400 bicicletas. No entanto, ele não tem previsão de expansão num período de cinco anos. Ou seja, é possível que em 2020 a cidade tenha quase uma bicicleta compartilhada para cada quilômetro de ciclovia.

O que esse indicador quer dizer? Se a prefeitura não fizer um novo edital para expandir o sistema, a cidade se estagnará no que tange ao uso de bicicletas compartilhadas por cinco anos e, assim, reduzirá a capacidade de promoção da bicicleta através deste instrumento que tem dado certo mundo afora.
O funcionamento do sistema
No dia da inauguração, 7 de junho, fui testar as bicicletas, as quatro estações e interação entre elas, o aplicativo, o telefone para contato e a integração disso tudo, formando o Bike BH, o sistema de bicicletas compartilhadas de Belo Horizonte.
Inicialmente, seriam implementadas 10 estações: quatro na região Central e seis na Pampulha. Por conta do ‘Perímetro Fifa’, as estações da Pampulha não puderam ser colocadas. Restaram, então, as quatro estações da região central. Clique aqui e compreenda como foram escolhidos os pontos para as 40 estações do Bike BH.
Localização das primeiras estações
São 40 bicicletas distribuídas em 4 estações, numeradas na sequência abaixo:
1. Praça Ruy Barbosa, entre rua da Bahia e avenida Santos Dumont;
2. Av. Augusto de Lima, quarteirão fechado entre a Praça Raul Soares e a rua Santa Catarina;
3. Praça Afonso Arinos, esquina de Av, João Pinheiro com Av. Augusto de Lima;
4. Av. João Pinheiro, esquina com Rua Gonçalves Dias (Praça da Liberdade).
Conexão entre as estações
Diversos manuais e especialistas afirmam que a distância entre as estações não deve superar 300m-400m. Para que o sistema seja atrativo às pessoas, as estações precisam formar uma rede com grande densidade.
Em BH, com as quatro estações, as distâncias de uma estação para outra estão variando de 650 metros a 1,8km. Essas distâncias são incompatíveis com a própria metodologia para instalação das estações usadas pela Serttel e apresentadas aos ciclistas de Belo Horizonte pela empresa.
Vagas nas estacoes
Diversos manuais e especialistas em bicicletas compartilhadas afirmam que, para o sistema não frustrar as pessoas com estações cheias, se tenha de 2 a 2,5 vagas para cada bicicleta em cada estação. Se uma estação tiver, inicialmente, 10 bicicletas, ela teria que conter de 20 a 25 vagas. Em Belo Horizonte, optou-se pela proporção de 1,2 vaga para cada bicicleta por estação (cada estação tem 12 vagas e tem a previsão de ter 10 bicicletas.
Esse fator implica diretamente na possibilidade dos usuários deixarem as bicicletas em algumas estações que são mais procuradas. Na prática, é possível que você chegue para entregar a bicicleta em uma estação e ela esteja cheia. Nesse caso, você terá que procurar outra estação para entregar as bicicletas.
Existe uma logística feita pela Serttel para que as estações estejam sempre com número equilibrados de bicicletas (10 em cada), mas a ausência de vagas extras prejudica a capacidade do sistema de fluir sem interferência constante da empresa administradora.
Características e observações sobre as bicicletas
• 12 quilos: um bom peso para uma bicicleta;
• Três (3) marchas com câmbio Nexus (interno ao cubo), passador revoshift Nexus e pedivela Nexus: por vezes, as marchas têm estado desreguladas e ‘pulavam’ da 1ª para a 3ª;
• Punho: emborrachado e confortável;
• Freio V-brake Logan: eficiente;
• Espelho retrovisor: a baixa qualidade da haste impossibilita o uso eficiente do dispositivo;
• Buzina: funciona bem;

• Selim: confortável com ajuste de altura e trava para evitar furtos;
• Canote: Altura máxima que ele alcança é insuficiente para o conforto de pessoas com mais de 1,80m e várias bicicletas apresentam rigidez durante a regulagem de altura do canote.
• Cestinha dianteira: baixa capacidade de armazemento (uma mochila, por exemplo, não cabe nela);
• Descanso: Funciona bem; efetivo;
• Paralamas: item importante, principalmente em época de chuva, protege de sujeira eventual na pista.

Os dados* do primeiro mês
• 1988 viagens foram feitas (média de 132 viagens/dia, ou 3.33 viagens/bicicleta) ;
• 4858 pessoas se cadastraram no sistema;
• 1375 pessoas compraram passes:
• 616 adquiriram o pacote diário (R$ 3,00/dia);
• 629 adquiriram o pacote mensal (R$ 10,00/mês);
• 130 adquiriram o pacote anual (R$ 60,00/ano).
*Dados disponibilizados pela empresa Serttel, administradora do sistema, para o período de 7 de junho a 22 de junho:
O cenário futuro
No último dia 27, a BH em Ciclo participou de uma comitiva da vistoria de 12 dos próximos 36 pontos que serão instaladas as bicicletas compartilhadas. Dos 12 pontos, a comitiva escolheu nove, que serão instalados até o final do mês de julho.
Com a implantação das 30 outras estações na área central da cidade, uma rede será formada, ainda que a distância entre as estações seja superior ao indicado nos manuais: 300m-400m.
A implantação de mais estações e bicicletas permitirá que mais pessoas adotem o uso das compartilhadas em seus deslocamentos diários. Além disso, o sistema de bicicletas compartilhadas terá, se bem gerido e promovido, a capacidade de aumentar o número na cidade e, assim, dará mais visibilidades à bicicleta em Belo Horizonte.
Além disso, o Edital de Licitação é claro no objetivo de implantação do sistema: ser uma ferramenta complementar os sistemas de transporte coletivo (metrô, ônibus e BRT) e um estímulo ao uso da bicicleta em curtas distâncias.
Nesse contexto, entendo a importância do Bike BH para a cidade e alerto para o desafio que Belo Horizonte enfrenta, desde já, de fazer com que as compartilhadas se articulem e se integrem a um sistema de transporte no qual seja possível pessoas se deslocarem de maneira segura, confortável e eficiente pela cidade.
Para tal, as necessidades de quem pedala e quem pretende pedalar precisam continuar sendo discutidas e trabalhadas na cidade pelos atores que se interessam pela bicicleta como modo de transporte.
Mais detalhes sobre o sistema podem ser encontrados emhttp://www.mobilicidade.com.br/bikebh/