Sediado na Austrália, Velocity 2014 trouxe as tendências da mobilidade em bike
O forte do Velo City, o congresso mundial de mobilidade em bicicleta, sempre são as apresentações sobre infraestruturas para circular e estacionar, dificuldades e soluções que giram em torno disso.
O forte do Velo City, o congresso mundial de mobilidade em bicicleta, sempre são as apresentações sobre infraestruturas para circular e estacionar, dificuldades e soluções que giram em torno disso, e é claro, a necessidade de mudanças culturais, mas todos os anos alguns temas se destacam e ganham evidência, desta vez foram mapeamentos, bicicletas públicas, logística em bicicleta e mais uma vez cultura.
Na parte de infraestrutura para circular, nenhuma novidade, mas fica clara a tendência de países nórdicos já quarentões no Planejamento Cicloviário, pela segregação total e compartilhamento apenas em zonas de real segurança viária.
ZÉ LOBO
Mapeamentos, bicicletas públicas e logística em bicicleta foram os destaques do ano
Já nos países “emergentes” em infraestrutura cicloviária, como Estados Unidos, Brasil e Austrália, fica evidente uma tentativa de adaptar as vias atuais ao novo modal bicicleta, usando sharrows, faixas e bike boxes, que promovem segurança, mas não para todos os possíveis usuários. De qualquer forma, mudanças na forma de pensar a mobilidade estão acontecendo, nos mais variados tipos de cidades e culturas, e a bicicleta vem como importante elemento, cada vez mais reconhecido. Vale citar a presença cada vez mais comum, ao lado do caminhar e pedalar, dos skates, patinetes e patins nos discursos.
Para estacionar também o de praxe, com destaque para os estacionamentos de bicicletas em vagas de carro, que vem ganhando espaço pelo mundo a fora. Lá eles chamam de Bike Corral.
No âmbito local, Austrália e Nova Zelândia, estão em uma fase muito parecida com a nossa, onde ainda é grande o embate com o mundo rodoviarista-carrocentrado, alguns visionários, tanto no governo quanto na sociedade civil, tentam mostrar como será o futuro e acelerar o processo. A população é jovem, há esperança de mudanças rápidas 😉
Lá a mudança cultural, como aqui, é uma grande barreira a ser vencida, e foi um tema sempre presente nas apresentações locais. A imagem do ciclista esportivo, ainda é muito forte em todas as áreas.
ZÉ LOBO
Paraciclos em Adelaide, na Austrália
Mapeamentos e Apps
Dos temas mais comuns no evento, mapeamentos e aplicativos de celular, que ajudam o ciclista a circular pela cidade se destacaram, nos mais diversos formatos e conteúdos. Apresentações, trabalhos universitários, prêmios, em todas as partes estavam presentes os mapeamentos e os apps.
Navegação, apoio e coleta de dados, isto resume bem todos eles. Apesar de toda a diversidade, no final todas buscam facilitar de alguma forma o uso da bicicleta na cidade e junto com isso sempre existem dados, que eu diria ser o termo mais importante do momento.
Novos sistemas de contagem de ciclistas e diferentes formas de levantar dados sobre o uso da bicicleta deixaram evidentes a necessidades por dados, de todos os tipos. Se na Europa dados continuam sendo necessários, imaginem aqui! No segundo dia do evento a citação foi “Data, data and data”. Quem vem se destacando nesta área é a cidade de Nova Iorque, que vem levantando e divulgando os mais variados tipos de dados sobre o impacto do uso das bicicletas e espaços para pessoas na cidade.
ZÉ LOBO
Exemplo de faixa exclusiva para bikes em Adelaide
Bicicletas públicas
Desde que frequento Velo Cities, 5 edições desde 2007, nenhum tópico entrou na área de interesse e saiu, por se tornar lugar comum (eficiência comprovada), em tão pouco tempo.
Em 2007 Munique, as Velib estavam pra ser lançadas, já existiam experiências como as OV Fiets holandesas, as DBan Alemãs, dentre outras, mas bicicletas públicas eram um assunto que se passava por alto. Já na edição seguinte, 2009 Bruxelas, elas foram um dos temas centrais, na feira, nas plenárias e apresentações, de lá pra cá vieram se destacando até 2013 em Viena.
Este ano em Adelaide, apenas um painel sobre elas, com 3 apresentações, (uma delas da Clarisse Linke do ITDP Brasil, apresentando o manual de bicicletas públicas do ITDP.) Porém as bicicletas públicas estavam presentes em quase todas as apresentações, fosse um aplicativo, uma reurbanização, uma nova infraestrutura, mudanças culturais, as bicicletas públicas estavam sempre lá, já fazem parte integrante do mundo do planejamento cicloviário e começam a enveredar mais profundamente em urbanização, arquitetura, design,…
Cyclelogistics
Como no ano passado, o tema permaneceu em alta. Existe uma preocupação muito grande na organização das cidades com entregas e compras, principalmente em seu último quilometro, em tempos de Centros sendo fechados para automotores e de compras desenfreadas pela internet, quando pequenos produtos precisam ser entregas nos mais diversos lugares, a toda hora. A Federação Européia de Ciclismo (Urbano), ECF de “European Cycling Federation” vê aí um forte filão para a promoção do uso de bicicletas nestas condições. As cargueiras cariocas, mais uma vez fizeram sucesso.
Infraestruturas em Adelaide
Tudo muito limpo e bem acabado. A infraestrutura implantada por eles é corajosa, ousada e moderna com uma visão mais ampla da necessidade dos ciclistas que por aqui, pelo menos parece, ruas liberadas para bicicletas em qualquer sentido, ruas com faixa no contra fluxo, bike boxes, faixas de mão única em vias rápidas e com pontos de ônibus ao longo, bicicletários por todos os lados, mas o número de ciclistas aqui é muito superior ao deles. Era comum no inicio e no final do dia, ver um bom número de ciclistas que pelo traje viajavam ao trabalho, mas no meio do dia, o movimento era muito fraco, demora pra ver um ciclista e não há entregadores como aqui, vi apenas uma cargueira durante os 5 dias em Adelaide.
ZÉ LOBO
Estacionamento para bicicletas ocupa o que era vaga para carros na Austrália
Muitas ruas de pedestres, que um dia visivelmente foram para carros e áreas com limitação para circulação de veículos, transporte púbico eficiente, mas quando o pedestre chega perto das vias para automóveis, não tem vez, vias largas com tempos de travessia curtos e salve-se quem puder 😉 Parklets e “áreas para ficar” também eram fáceis de se encontrar pelas ruas e “becos”.
Velo City / evento
Esta edição, tinha metade ou menos, dos participantes das outras edições que participei, o número de expositores na feira também era muito menor.
Metade dos participantes eram locais ou das proximidades como Malásia, Japão, China, Índia, da América do Sul, apenas eu, Clarisse Linke do ITDP, Annie Faccó da SMAC, Maira Moreno do Itaú (todos do Rio, a Maira do Itaú, cuida dos projetos cariocas) e uma chilena de Santiago. Foram mais de 180 apresentações, um grande volume de europeus eram palestrantes ou da organização do evento.
Para a ECF, aproximadamente 600 participantes em Adelaide foi um sucesso e um novo “mercado” que abre as portas para eles.
WCA
Foi lançada em Adelaide a World Cycling Alliance – WCA, iniciativa para criar uma rede global de ongs voltadas à promoção da bicicleta
Nós, da Transporte Ativo, fomos convidados para sermos membros fundadores, a cerimonia de fundação foi em 29 de maio e o lançamento oficial foi no dia seguinte no encerramento do VC. Os sócios fundadores foram as 82 organizações membros de ECF e mais 4 convidadas para completar o quadro “mundial”:
People for Bikes USA
BEN Bicycle Empowerment Network Africa do Sul, Cape Town
JUGA Africa do Sul, Johannesburg
Transporte Ativo Brasil
Será aberta à filiação de qualquer entidade com objetivo comum.
Pra completar, ainda fui finalista na categoria International Leadership do Cycling Luminaries Awards, pelo trabalho desenvolvido no Ciclo Rotas Centro.