Guilherme Tampieri é o novo colaborador do Bike é Legal
Imagine uma oportunidade de fazer algo novo e que tem impacto positivo num processo de educação continuada, para a compreensão do ciclista como agente do trânsito.
Imagine uma oportunidade de fazer algo novo e que tem impacto positivo num processo de educação continuada para a compreensão do ciclista como agente do trânsito. Agora imagine que isso é possível e, em vários momentos, depende apenas da identificação de uma oportunidade. Pois bem. Isso tem acontecido em Belo Horizonte, com alguma frequência.
As políticas públicas são determinadas não apenas por decisões finais como votos no Legislativo, iniciativas de prefeitos ou secretários e possíveis vetos a bons projetos, mas, também, pelo fato de que algumas questões e propostas são lançadas enquanto outras nunca são levadas a sério em nossas cidades. Isso se dá por três fatores: problemas existentes, políticas propostas ou não e por participantes envolvidos nos processos políticos.
Nós, cidadãos que optamos, em algum momento, por nos deslocar de bicicleta, temos condições de participar de discussões com gestores públicos, instituições da sociedade civil, movimentos sociais ou até mesmo com um algum interessado na temática. Outra opção é criar canais de diálogo com esses mesmos atores. Com essas conexões, podemos nos tornar participantes envolvidos nos processos políticos das nossas cidades.
Essas conexões fazem parte de uma das áreas de atuação da BH em Ciclo – Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte, assim como a participação nos processos de construção de uma política pública que compreenda a bicicleta como modo de transporte. Com elas, a Associação tem conseguido pautar a bicicleta na agenda dos gestores públicos municipais. O último ganho da Associação foi a inclusão desta placa nos taxis da cidade.
Explicando o processo:
Os taxistas são, em qualquer lugar do mundo, um dos piores (senão o pior) problemas para pedestres e ciclistas. A conduta deles, taxistas, é inapropriada até em cidades mundo afora as quais nós, brasileiros, gostaríamos de pedalar (Nova York, Amsterdã,Copenhague e outras).
Essa placa, do lado de dentro, contém o valor da tarifa de taxi. Você deve estar se perguntando como o “Respeite o ciclista” foi parar ali. A tarifa foi reajustada e havia a necessidade de se pensar qual seria a campanha da vez. Pela participação de ciclistas da cidade em fóruns de discussão, os gestores públicos lembraram dos ciclistas.
Isso resolve o fato dos taxistas serem, via de regra, um dos nossos maiores problemas? Sem dúvida, não, por N fatores que não vêm ao caso agora.
O que vale lembrar é que a ação pode ser, no mínimo, uma forma de mostrar que existe uma figura na cidade chamada ciclista e que é preciso respeitá-la. Num outro nível, ela pode ser uma ação de promoção sobre o uso da bicicleta na cidade. Mas ela pode ser mais que isso.
Quando digo que ela pode ser mais, me refiro ao fato dela poder ser um instrumento de aproximação entre ciclistas e taxista, no sentido de mostrar para eles que, mesmo sendo obrigados a ter essa plaquetinha no taxi (por causa do reajuste) a iniciativa é positiva.
Ainda podemos falar que os atuais 6500 taxistas da cidade são, inerentemente, propagandas ambulantes com uma mensagem interessante para nós ciclistas.
Se tal iniciativa fosse feita em alguma dessas cidades que tanto admiramos, qual seria nosso comportamento? Diríamos que foi algo inovador e uma estratégia impressionante para fomentar o uso da bicicleta?
A maior parte das cidades brasileiras têm suas próprias características, mas se parecem mais com outras daqui do que com as europeias, por exemplo. Valorizar e compartilhar iniciativas locais é uma maneira importante de difundir boas práticas ligadas à bicicleta nas nossas cidades.
Por si só essa placa tem efeito limitado, mas, com ações conjuntas como esta (outrolink) e outras que podem vir, os ciclistas de Belo Horizonte estão inserindo a bicicleta na agenda do poder público, que ainda é tímida no que tange à promoção da magrela.
Em suma, a oportunidade apareceu por conta do reajuste e o ciclista foi lembrado por conta da insistência dos ciclistas da cidade em participarem, junto com o poder público, da construção de uma política pública voltada para a bicicleta. Estamos longe, mas o caminho está sendo trilhado.
PS: Uma ação que pode ter um bom efeito é acenar para os taxistas e demonstrar para eles sua aprovação diante da placa.