Amor é a palavra de ordem do Fórum Mundial da Bicicleta
Acabo de voltar à realidade paulistana depois de dias intensos em Curitiba, onde tive o privilégio de participar do III Fórum Mundial da Bicicleta, evento que reuniu milhares de pessoas.
Acabo de voltar à realidade paulistana depois de dias intensos em Curitiba, onde tive o privilégio de participar do III Fórum Mundial da Bicicleta, evento que reuniu milhares de pessoas em torno de uma só paixão: bi-ci-cle-ta.
Durante os quatro dias foi possível ver de perto a relevância que o Fórum ganhou nos últimos anos e se tornou, hoje, um dos eventos mais importantes no calendário nacional, especialmente por ser uma autêntica atividade capitaneada e promovida pela sociedade civil.
O encontro foi, no mínimo, histórico.
Durante a abertura, a gaúcha Lívia Araújo – uma das integrantes da equipe que organizou o FMB nos dois últimos anos em Porto Alegre – lembrou que o Fórum é resultado da superação positiva a uma violência extrema provocada em fevereiro 2011. “A partir do atropelamento da Massa Crítica pudemos devolver para a cidade algo assim: bonito, simples, cheio de amor e amizade em busca por algo maior e melhor”.
Goura Nataraj, diretor da Ciclo Iguaçu – a Associação de Ciclistas de Curitiba – fez questão de lembrar que as cidades brasileiras precisam ser mais inclusivas aos que usam seus espaços. “Curitiba é conhecida internacionalmente pelo seu urbanismo, mas ainda precisa contemplar ostensivamente pedestres, ciclistas, cadeirantes, idosos, crianças e todos”.
As participações internacionais são sempre importantes para dar a dimensão global do trabalho que vem sendo realizado por aí. Mona Caron, Elly Blue, Chris Carlsson, Carlos Cadena, Galo Cárdenas e tantos outros nomes foram responsáveis por inspirar todos nós.
Além do aspecto mais histórico, muitos deles trouxeram – nas suas diferentes visões – a questão da economia e da cooptação clara da bicicleta pelo capitalismo. “Quando começamos a lutar pelas bicicletas não queríamos criar um ‘playground sustentável’ para os ricos. Queríamos mudar a cidade”, provocou a artista Mona Caron quando falou do início do movimento Critical Mass em São Francisco, na Califórnia.
Porém gostaria de destacar aqui neste blog uma das participações mais marcantes para mim nesse FMB, a da querida Renata Falzoni, figura conhecida por muitos de nós e que guarda histórias incríveis nesses mais de 20 anos de ativismo em prol da mobilidade por bicicleta no Brasil.
Falzoni foi aplaudida de pé por um auditório lotado durante o painel que dividiu com Chris Carlsson (SF/EUA) e Odir Zunge (SP/BRA). Ela fez uma apresentação emocionante e emocionada, mostrou vários momentos históricos da luta diária pelo direito de pedalar e deixou transparecer a revolta por tudo que vivemos.
Sua fala levou a platéia à reflexão sobre a angústia de mexer em seu baú e se deparar com as mesmas promessas não cumpridas de sempre. Ficou claro o descompasso que existe hoje entre as demandas crescentes da população e a falta de compromisso público com a questão da mobilidade urbana.
No âmbito político pouquíssima coisa mudou. Já olhando as iniciativas cidadãs, a realidade é gritantemente outra, mais bonita, poderosa e mais madura. “Olhando para esse auditório lotado, fico feliz em dizer que posso pendurar as sapatilhas a qualquer momento, não estou mais sozinha nessa luta” revelou emocionada.
OBRIGADA!
Por fim, quero deixar registrado meu agradecimento pela oportunidade única de ter vivido intensamente esse dias de Fórum Mundial da Bicicleta.
Arrisco dizer que o brilho maior desse evento está no amor inexplicável em torno do tema e das pessoas, nos encontros e reencontros, na construção coletiva que aproxima, na liberdade em permanecer desvinculado de qualquer marca, na alegria em receber pessoas novas, nas trocas de conhecimento e boas energias que unem e criam a liga perfeita.
Como disse o Chris Carlsson, é “um convite de amor para as pessoas, um evento para se apaixonar uns pelos outros”. Estou, mais do que nunca, apaixonada por todos vocês.
Em 2015 nos vemos de novo, dessa vez em Medellin, na Colômbia!