Memórias do Brasil Ride
No prólogo pudemos sentir que a bike de alumínio seria rígida nos trechos de pedra e um pouco pesada nos trechos de empurra bike, porém nas partes planas nossas bikes funcionavam bem.
Bob Nogueira e Douglas Moi na Ultramaratona de MTB
No prólogo pudemos sentir que a bike de alumínio seria rígida nos trechos de pedra e um pouco pesada nos trechos de empurra bike, porém nas partes planas nossas bikes funcionavam bem e eram rígidas para aceleração e retomadas de curvas. Concluímos o primeiro dia na 21º colocação, o que nos deixou animados em ver que estávamos competitivos, mas nos sentimos intimidados pelos 15 primeiros que voaram no circuito do prólogo.
Já no dia seguinte, a longa etapa de 139 km parecia não terminar, nos encaixamos no grupo do Ravelli e May e conseguimos acertar o ritmo concluindo a prova sem grandes desgastes. Mesmo com um tombo que levei no km 80, onde machuquei um pouco o rosto e bati a cabeça em uma pedra. O tombo me trouxe um maior respeito às descidas da prova, que exige máxima atenção nas partes técnicas e um acidente pode acontecer a qualquer momento.
Na quarta etapa tivemos uma surpresa, logo na largada percebemos que nosso ritmo estava bom o suficiente para andar entre as 15 primeiras equipes. Aceleramos na segunda metade da prova ultrapassando a equipe Trek Factory Racing, com os atletas Rab Wardell e Rich Weiss. Neste momento percebi que algo devia estar errado com a quilometragem da etapa, pois estávamos com 87 km e não havíamos passado pela ultima serra, que tinha uma subida brutal de 4 km. Ao chegar no pé a montanha falei para o Moi: “Como você está se sentindo? Vamos atacar os gringos da Trek, pois essa é nossa chance de ultrapassá-los na classificação geral!”.
Continuamos acelerando e chegamos em 16º lugar na etapa, porém nos mantivemos atrás dos atletas da Trek, que naquele ponto se tornaram nossos rivais diretos na classificação.Para o terceiro dia, onde seria realizado o cross-country, tivemos uma performance equilibrada, tendo o Douglas como um diferencial e avançando na classificação, o que nós colocou ao final da etapa na décima sexta colocação. Estávamos entrando no ritmo da prova e começamos a visualizar as próximas etapas e em como progredir na colocação geral. Planejamos conter um pouco nossa energia na quinta etapa para atacarmos na sexta etapa que teria 143 km de distância com 3.000 metros de subidas acumuladas.
Um detalhe curioso aconteceu no quinto dia de prova. Ao alinhar para largar, ficamos lado a lado com Rich Weiss. Seu sotaque bem americano ironizou nossas bikes. “Are you guys crazy?! Aluminum Bikes to race here?! errr”, que traduzido é mais ou menos: ‘Vocês são loucos de correr com bikes de alumínio em uma ultra-maratona tão dura e desgastante ?’. Rich estava abordo de uma Trek Top Fuel 29er de carbono, full suspension e com potenciômetro SRM. Minha resposta foi curta, “Não somos loucos, somos bikers retrô!”, ele riu muito com nosso humor e eu mais ainda, pois estava falando sério e ele achando que eu estava brincando.
Nessa etapa Douglas e eu não tivemos um bom começo, ficamos parados por cinco minutos resolvendo um pequeno furo no pneu dele e quando subi na bike percebi que a corrente estava presa entre a cora pequena e coroa do meio. Foi ali que percebi que a coroinha de minha bike (corri com um pedivela 3×9 marchas) estava solta e a corrente entrou justamente ali – dificultando a retirada da mesma. Uma vez que o Douglas e eu conseguimos soltá-la, voltamos à prova e fomos recuperando posições. Mas a dureza da etapa, que tinha muita trilha em pedra, fez com que sofrêssemos um pouco com a rigidez do quadro de alumínio.
Nessa hora falei para o Douglas, “Imagina em 1991, com 48 mm de curso no amortecedor dianteiro, pedal com firma pé, guidão de 580 mm de largura, os antigos thumbshifters e claro, os quadros retro de alumínio 6061! Isso sim seria difícil e rígido…” nesse momento Douglas começou achar que eu era louco mesmo e me enxergava como um biker retrô correndo o Brasil Ride em 2013. No final da etapa encostamos-nos aos atletas da Trek novamente, pois na parte técnica eles abriram boa vantagem. Mas como o final do quinto dia terminava com uma subida longa e íngreme de asfalto, descontamos toda diferença de nossas bikes de alumínio para os gringos com suas bikes ultramodernas.
Mais uma vez vencíamos bikes top com nosso equipamento simples, que no meu caso continha uma transmissão Sram X-0 de 2009 e o Douglas com um grupo Sram X-7 de 2013.