O dia em que perdi a hora e o meu cachorro
Eis que na manhã do dia 29 de outubro acordei atrasada para um compromisso de trabalho. Como todos os dias, antes de pegar a bicicleta para ir trabalhar, soltava meu cachorro na rua.
Andar de bicicleta é ter uma relação diferente com o tempo. Pedalar para os compromissos me faz saber exatamente a que horas irei chegar em qualquer lugar – independente de ser mais rápido ou devagar do que de carro ou ônibus, não importa – de bike as variações são mínimas e o corpo é o mesmo.
E foi na semana passada, segunda-feira, dia 29 de outubro que o tempo virou contra mim.
Atualmente moro em um bairro muito gostoso, na região do Alto de Pinheiros, perto da Praça Pôr-do-Sol, as ruas são, em geral, pouco movimentadas, arborizadas, onde é possível escutar passarinhos, ver cachorros correndo e crianças pedalando. Por isso, curtia o privilégio e a alegria que é criar um animal relativamente em liberdade, convivendo com outras pessoas e espalhando todo seu carinho ao mundo.
Eis que na manhã do dia 29 de outubro acordei atrasada para um compromisso de trabalho. Como todos os dias, antes de pegar a bicicleta para ir trabalhar, soltava meu cachorro na rua. Religiosamente ele saía, encontrava seu amiguinho Sheik (cachorro do vizinho, também vira-lata simpático e serelepe) e os dois corriam, brincavam e voltavam exaustos 10 minutos depois.
Mas dessa vez ele não voltou e o maior erro foi meu, pois, na pressa de perder o compromisso, abri o portão e esqueci de colocar a coleira de identificação nele antes de soltá-lo.

Pedrinho por aí / © Aline Cavalcante
Tempo, tempo, tempo… Essa talvez tenha sido uma das principais mudanças de rotina que tive que me adaptar desde que vim do nordeste para São Paulo. O tempo é outro! Sinto que aqui as pessoas correm o tempo todo, quase que literalmente. Tudo é “pra ontem”, tem muita coisa pra fazer, as horas passam rápido, o tempo voa. Pouco se admite o atraso, mesmo que todos atrasem e culpem o trânsito por isso. Eu, como não tenho essa desculpa (já que bicicleta não pega congestionamentos), me peguei mesmo assim atrasada, correndo contra o tempo e sem cabeça pra mais nada!
O resultado? Perdi a hora, a reunião e o Pedrinho. Ele demorou mais do que o habitual para voltar da rua, senti imediatamente um frio na barriga. Misteriosamente ele desapareceu… Continuo na busca, espalhei cartazes e fiz uma campanha nas redes sociais (por mais que nesses ambientes fique claro o julgamento moral dos delegados de sofá). “Tempo é dinheiro!” É mesmo! E foi ele que me fez perder um dos bens mais valiosos que conquistei nos últimos tempos.
Não me arrependo em nenhum momento de ter criado o Pedrinho com confiança, respeito e liberdade. Nesse caso, assumo total o meu maior erro, não ter tido TEMPO para respirar e fazer uma coisa tão simples: cuidar do meu cachorro!
Ainda não encontrei o Pedrinho… Se alguém tiver qualquer notícia, por favor, me avise por telefone ou por email [email protected] Ficarei eternamente agradecida!

Procura-se pelo Pedrinho / © Aline Cavalcante