A rampa de acesso na esquina de casa eu não consigo subir. Na outra esquina tem um florista que se chama André. Ele era magrinho e tinha um sorriso bonito em 1990. Outro dia ofereceu uma rosa, como de costume. 

Na quadra seguinte um condomínio resolveu recortar sua calçada, colocou terra e plantou duas árvores, elas já estão crescendo bonitas. Na próxima esquina, a padaria ocupa mais da metade da calçada com mesas e quando fica paralela ao orelhão não consigo passar, mas devagar, dá pra respeitar. Sempre digo pra Nina que não posso atrasar, eu não gosto de ir rápido, melhor ir devagar. 

Outro dia errei o lado da calçada, me distraí e quando vi, não existia mais calçada, o “muro” da obra tomou conta. Lá não dá pra passar e todos vão pelo asfalto. Na travessia da avenida os faróis colaboram e não precisamos correr. No outro quarteirão tem um monte de caminhões, tem uma garagem e obras por todos os lados.

Vou de bike todo dia, levo a Nina pra escola e depois vou trabalhar. Nesta rotina conversamos sobre a vida, as pessoas e o caminho. Não interessa aonde vamos, faça chuva ou faça sol, tem guarda chuva na bicicleta e na mochila tem cenoura e maçã.

Nina respeita as pessoas e conhece os espaços públicos. Nina é uma criança, tem 6 anos, vive em São Paulo. Nina vai de bike pra escola quase todos os dias e os amiguinhos sempre perguntam: veio de bike ou patinete?

Quando coloquei Nina na cadeirinha da bicicleta pela primeira vez não imaginava como transformaria as nossas vidas. Nina questiona os carros sobre a faixa de pedestre, quando passam no vermelho, motoristas ao celular e quando buzinam estressados ela diz: vai de bike.

Utilizar a bicicleta como meio de transporte proporciona uma convivência diária com pessoas, ruas, buracos, árvores, passarinhos, cachorros, barulhos, cheiros, buzinas, flores, árvores, carros sobre a faixa de pedestre e muita gentileza. No final do dia tem sempre um aprendizado. Feliz dia das crianças!

Assista ao vídeo e saia da bolha: