O Muro de Berlim Capixaba, parte 2
O movimento Ciclistas Urbanos Capixabas contesta desde maio deste ano, a Prefeitura de Vitória no Espírito Santo.
O movimento Ciclistas Urbanos Capixabas contesta desde maio deste ano, a Prefeitura de Vitória no Espírito Santo, que para dar maior fluidez aos automóveis em direção à Terceira Ponte, deciciu cortar a histórica Praça do Cauê com uma avenida de acesso. Esta ponte liga a cidade de Vitória à cidade de Vila Velha e a possibilidade da destruição de parte da praça tem movimentado a população local.
Ainda que o Ministério Público da cidade tenha recomendado uma ampla discussão com a população, no dia 21 de julho de 2013, o videorreporter Rafael Darrouy, o “Ciclista Capixaba”, acompanhado de Luiz Son, encontraram na praça um painel anunciando a obra de “mobilidade urbana” promovido pela prefeitura.
Veja aqui o vídeo de Rafael Darrouy:
Tanto a Prefeitura quanto o Estado não desistiram da ideia e no dia 9 de agosto, O Ciclista Capixaba documentou mais uma manifestação dos ciclistas, onde eles readequaram o tom da campanha de “Mobilidade Urbana” para “Imobilidade Urbana” e denunciam a intenção do governo do Estado em atropelar a Praça do Cauê com a Avenida.
“No meio do caminho tinha uma praça” é o título deste vídeo, obra prima que alude o poema de Carlos Drummond de Andrade:
No dia 12 de agosto houve um debate popular, no qual, a prefeitura promete ampliar a praça que hoje possui 5322 m2 para 6444 m2 após a sua “revitalização”.
No croqui apresentado, fica evidente que a área da avenida sobre a praça, foi considerada como “área da praça”. Somente assim para justificar esse milagre da ampliação de sua metragem quadrada.
Pela Avenida que passará a cortar a praça, poderão circular somente automóveis particulares e motocicletas, o que evidencia que o transporte público não é foco principal da gestão.
Neste link você pode acessar o debate popular.
Leia o texto de Wladimir Casé sobre a nobre origem da Praça do Cauê:
Um grave crime contra o patrimônio histórico e urbanístico está na iminência de ocorrer no Estado do Espírito Santo. Ao norte e a leste da ilha que compõe a maior parte do território da capital Vitória, existem vários bairros que foram projetados pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito (1864-1929). “Pioneiro da Engenharia Sanitária e Ambiental no Brasil”, Saturnino de Brito realizou alguns dos mais importantes estudos de saneamento básico e urbanismo em Santos, Campos, Recife, Natal, Rio de Janeiro, entre várias outras cidades do país.
Em 1896, Saturnino de Brito concebeu o plano de expansão de Vitória, que ficou conhecido como “Projeto do Novo Arrabalde”. Conforme o plano geral do engenheiro, os novos bairros seriam cortados por eixos diagonais e com malhas octogonais definindo quarteirões, tendo como principal avenida a que ficou popularmente conhecida como “Reta da Penha”.
Na ponta sul da citada avenida, existe uma praça conhecida como “Praça do Cauê”, que faz parte do projeto original do “Novo Arrabalde”, mas que agora em 2013 o governo do Estado e a prefeitura de Vitória pretendem cortar ao meio, descaracterizando-a completamente. O objetivo é prolongar a avenida, sob o argumento de “melhorar o trânsito” (leia-se mobilidade de veículos motorizados individuais).
Muitos moradores da região são contra a obra, pois caso ela ocorra eles vão perder uma importante área de lazer e símbolo de pertencimento local. Além disso, seria uma intervenção drástica, irreversível, num local que tem uma história e uma importância únicas para a engenharia e o urbanismo brasileiros.
É necessário denunciar o dano ao patrimônio que o projeto implica, de modo que ele seja repensado pelo poder público.
E, mais do que tudo, é fundamental debater o assunto e expor o equívoco de um projeto de intervenção na “Praça do Cauê” que prevê investimentos públicos em total desacordo com as prioridades determinadas pela Lei Federal 12.587/2012, que estabelece a Política Nacional de Mobilidade Urbana: prioridade aos pedestres, aos modos de transporte não motorizados e ao transporte coletivo.