Nossas cidades deram errado!
Levar 6 horas por dia amassado em ônibus e trens foi o primeiro grande tapa na cara: "Nossas cidades deram errado!"
Aprendi a andar de bicicleta em Itaquaquecetuba, cidade onde vivi até os dezenove anos. Lá, só parei de pedalar quando levei um tombo feio e, depois, quando a vida ficou séria. No processo de virar gente grande, descobri que as oportunidades de estudo e trabalho estavam “na cidade” e aí começa o drama.
Por apenas 2 anos, o fracote aqui sentiu na pele o que o pessoal da periferia e da região metropolitana de São Paulo passa de segunda a sexta ao longo da vida inteira. Levar 6 horas por dia amassado em ônibus e trens foi o primeiro grande tapa na cara: “Nossas cidades deram errado!”
No entanto, eu só entendi de verdade o tamanho do problema quando eu me mudei para a capital e… ganhei uma bicicleta. Eu sei, parece conversa de “ciclochato”, mas não é. A bike mudou radicalmente a maneira de enxergar a cidade e a vontade de me relacionar com ela. No trânsito, eu não pertencia a esse lugar.
Assim, com a cabeça fervilhando palavras como mobilidade e moradia, produzi um documentário que não mostra nenhuma bicicleta, mas que é pura obra de uma bike. Perrengue me trouxe até aqui para tentar ajudar a caminhada de tanta gente boa que lutou e luta todo dia para que nossas magrelas tenham espaço. E que nossas cidades sejam mais vivas.