Criada a Associação Parque Minhocão que defende a retirada dos carros sobre o elevado Costa e Silva
Nesta quarta-feira dia 14 de agosto, foi lançada oficialmente a Associação Parque Minhocão, que tem como objetivo transformar o Elevado Costa e Silva em um parque elevado com ciclovia.
Nesta quarta-feira dia 14 de agosto, foi lançada oficialmente a Associação Parque Minhocão, que tem como objetivo transformar o Elevado Costa e Silva em um parque elevado com ciclovia.
O Minhocão foi questionado pelos principais jornais de São Paulo mesmo antes de ser inaugurado em 1970, pois além de ter custado uma fortuna, nunca foi apresentado um estudo fiel de seu impacto, sem falar que sua obra impediu a ampliação do metrô ao longo da Avenida São João.
A frase do próprio então prefeito Paulo Maluf em 1970 resume na cara de pau este acinte à população:
“Para chegar às Perdizes em 3 minutos, a cidade de São Paulo gastou 40 milhões de cruzeiros. Foram consumidos 300 mil sacos de cimento, 60 mil metros cúbicos de concreto e 2 mil toneladas de cabos de aço, entre outros materiais. E o metrô parou.”
Além de ser responsável pela deterioração dos bairros por onde passa, o Minhocão atrasou as obras da linha Leste Oeste do Metrô, que passariam pela Av. São João. Tivesse nunca sido construído, teríamos ao longo da Av. São João, uma artéria ladeada de edifícios históricos, arborizada e servida de metrô na zona central.
O Elevado Costa e Silva simplesmente assassinou a região. É hoje um marco à idiotice da gestão pública voltado unicamente à estruturas para carros.
O fato é que o veneno envenenou a própria cobra. Hoje ninguém mais tem a cara de pau de defender o Elevado, a não ser o próprio Paulo Maluf em um artigo na Folha de S. Paulo. Nesse artigo o então prefeito insiste no formato obras só para carros.
A Revista da Folha deu o lançamento da Associação em primeira mão nessa matéria, leia aqui. Os editores desta matéria tiveram o cuidado de retirar deste artigo uma entrevista comigo onde eu afirmo que é necessário além de retirar os carros do minhocão, criar um parque com ciclovia por sobre ele, garantir mecanismos de políticas públicas que mantenham a população na região, em especial os de baixa renda, os trabalhadores e os que hoje pagam aluguel. Ou seja, há que se evitar a gentrificação, como é chamado esse processo de expulsão das classes menos privilegiadas das áreas afetadas pela especulação imobiliária. Leia aqui sobre o processo de gentrificação.
É infrutífero argumentar com pessoas contrárias a melhoria da qualidade de vida dos bairros afetados pelo Minhocão, para evitar a expulsão dos que hoje lá habitam. Isso é impensável.
No entanto não vejo as políticas públicas do Brasil preocupadas com esse fenômeno, também não vejo o que tem sido feito para trazer de volta ao centro de São Paulo a classe trabalhadora, expulsa para a periferia da cidade ao longo desses últimos 40 anos.
O conceito tão bem descrito por Eduardo Jorge, então Secretário do Verde e Meio Ambiente, sobre cidades compactas, com bairros onde moram cidadãos de diferentes classes sociais, bairros providos de estrutura e comércio, só virá quando o Plano Diretor da cidade atualmente em discussão for de fato cumprido, coisa que o anterior não foi.
Tal era o número de acidentes sobre a via durante a noite, sem falar nos 85 decibéis de barulho dos carros, que em 1976, apenas 6 anos depois de sua inauguração, o Minhocão passou a ser interditado na parte da noite, das 21h30 às 6h30. Mais recentemente essa interdição ampliou-se para os domingos.
No evento de lançamento gastou-se, como sempre, muito tempo para falar sobre o que fazer com os carros que por lá passam. Para quem pedala e combina esse transporte com a rede de transporte público, tão farto naquela região, fica muito difícil entender o porque de se magnificar tanto a questão dos carros.
A solução é simples e idêntica a das grandes metrópoles atormentadas pelo automóvel: São Paulo só vai melhorar a qualidade de vida de sua população quando disser não à carrodependência. O uso do carro tem que ser restringido para a o bem de todos. Nenhum político tem coragem de propor o pedágio urbano. Este seria o subsídio correto para se implementar soluções efetivas para a mobilidade sustentável.
Já soluções para evitar a gentrificação, trazer a classe trabalhadora de volta para o centro da cidade e prover emprego na periferia, só político com vergonha na cara resolve.