TCC da ECA USP analisa em vídeo a imobilidade urbana de SP ou, como uma bicicleta doada subverteu um aluno amante de futebol
Murilo Azevedo dos Santos, estudante de jornalismo da ECA, Escola de Comunicação e Arte da USP, ganhou de mim uma bike e adotou a magrela como meio de transporte a partir de então.
Renata Falzoni
Murilo Azevedo dos Santos, produtor e diretor do documentário Perrengue
A história começou no dia 25 de Janeiro de 2011. Participei do World Bike Tour, aquele mega passeio ciclístico para 7 mil pessoas e ganhei a bicicleta do evento, básica, com pneus de mountain bike.


Sai do evento e fui direto a redação dos canais ESPN, participar ao vivo do extinto Planeta EXPN. No ar eu disponibilizei a bicicleta e o capacete do WBT a algum fã do esporte que por e-mail me explicasse o motivo porque a bicicleta deveria ser dele!


O contemplado foi Murilo Azevedo dos Santos, estudante de jornalismo da ECA, Escola de Comunicação e Arte da USP, que adotou a magrela como meio de transporte a partir de então.


Murilo é mesmo um fã de esporte e já trabalha no jornalismo esportivo como videorreporter.


O seu TCC, Trabalho de Conclusão de Curso, em vez de versar sobre o futebol, a paixão dos brasileiros, preferiu estudar a imobilidade dos cidadãos paulistanos, escravos de carros, reféns de um transporte público de má qualidade e que não se dão conta da arapuca em que se encontram.


Segundo Murilo, foi o fato de ele recomeçar a pedalar, depois de haver ganho a bike de minhas mãos, que se interessou em discutir o tamanho drama de nossa sociedade. 


Mudar-se de Itaquaquecetuba da zona extrema leste de São Paulo para o bairro de Pinheiros e pedalar por São Paulo, para ir e voltar a escola e ao seu trabalho, aguçou-lhe o raciocínio.


O Trabalho final é “Perrengue”, um documentário sobre 4 trabalhadores que perdem de 3 a 5 horas por dia no deslocamento aos seus empregos, ao lado da análise da urbanista Erminia Maricato, do diretor de planejamento da CET Irineu Gnecco Filho e do também urbanista Nazareno Stanislau.


Sem um texto em off, Murilo habilmente monta as sonoras de forma a evidenciar que o principal problema não é o transporte público em si, é a falta de planejamento dessa cidade onde empregos e infraestrutura urbana ficam no centro e a classe trabalhadora em bairros dormitórios afastados, sem infraestrutura ou trabalho.


Não há estrutura de transporte público capaz de solucionar tamanho disparate.


As mesmas imagens de todos os dias, enormes engarrafamentos; trens, ônibus e metrôs extra lotados, que nos são tão comuns, ganham outro peso, quando sobrepostas aos depoimentos dos personagens reais. Nossa realidade revela-se nua e crua: obcena.


Todos sem exceção sofrem.


“Perrengue” é uma produção que tem como objetivo não concluir e sim fomentar a discussão e consequentetemente quebrar a letargia em que estamos, face a esse drama de nossas cidades.


A triste conclusão final de Erminia Maricato denuncia o que nós ciclistas já sabemos de longa data: A população não se dá conta e vive encalusurada como se o drama fosse individual e não coletivo.


Esse documentário vale muito a pena ser visto.


Por enquanto Murilo apenas disponibilizou o clipe de abertura veja:
Necessário destacar a correta orientação do professor José Roberto Ferreira Cintra.