Por que a Ciclofaixa da Paulista me indigna tanto?
Não sou contra a Ciclofaixa, muito pelo contrário, a Ciclofaixa de Lazer tem um papel importante em ser a semente de um processo, processo esse que deve ser acompanhado de uma política pública...
Thays Bittar/Frame
Ciclofaixa da Paulista manda ciclista irem pela esquerda. Uma desinformação mos dias de semana
Não sou contra a Ciclofaixa, muito pelo contrário, a Ciclofaixa de Lazer tem um papel importante em ser a semente de um processo, processo esse que deve ser acompanhado de uma política pública de incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte. É isso que eu sou a favor, a Ciclofaixa de Lazer ser o começo de um processo e não o processo em si.
Portanto a festa em torno da Ciclofaixa da Paulista mais do que me incomoda, me irrita muito, por vários motivos e vou enumerá-los.
1. Eu não abro mão de 1 centímetro quadrado destinado a circulação de bicicletas, mesmo quando se trata apenas para lazer, como é o caso das Ciclofaixas de Lazer. Mas as Ciclofaixas de Lazer não estão evoluindo a nada, estão provando ser uma enganação irritante.
2. A Avenida Paulista é um símbolo de São Paulo, por ela passam 80 ciclistas por hora no horário de pico, mesmo sem nenhum incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte. Nela já morreram vários ciclistas entre eles Marcia Prado em 2009 e Juliana Dias em 2012. Existem na Avenida duas Ghost Bikes em homenagem a vida dessas duas ciclistas.
Me irrita o fato de que quando se faz algo pela bicicleta na avenida Paulista, não ser para transporte e sim lazer. Isso deixa claríssimo que a bicicleta como meio de transporte não figura mesmo nos planos da prefeitura. Portanto, a Ciclofaixa da Paulista nesse momento é a chancela da política pública de enganação em relação aos que vão de bicicleta.
3. A única estrutura permanente da Ciclovia da Paulista é uma sinalização que induz a outra enganação: Induz as pessoas, em especial os motoristas, a entenderem que bicicleta deve rodar pela esquerda da pista, somente aos domingos.
A “estrutura permanente” da Ciclofaixa de Lazer da Paulista promove a ilegitimidade dos ciclistas em transporte pela avenida, nos dias de semana e aos sábados.
4. A Secretaria Municipal de Transporte de São Paulo teve a seu dispor R$ 15 milhões para apresentar durante o ano de 2011, um Plano de Mobilidade para São Paulo, não o fez e nem se explicou. Esse fato ilustra o quanto a prefeitura não se está nem aí com o problema da mobilidade dessa cidade, enquanto isso as Ciclofaixas de Lazer se expandem, sem atender a necessidade de mobilidade, apenas de lazer.
Uma estrutura permanente atenderia tanto transporte quanto lazer, a quaisquer dia e hora. Mais barato e mais eficiente. Com o dinheiro que foi gasto nas Ciclofaixas, daria para prover uma estrutura permanente, mas isso não está no interesse de nossa política pública.
Aguardem… quando forem apresentar o quanto São Paulo melhorou no quesito mobilidade em bicicleta nesses últimos anos, vamos ter que engolir “Ciclofaixas de Lazer” como mobilidade. Isso já está sendo osso duro de engolir! A Ciclofaixa da Paulista faz parte de um esquema de enganação.
5. Inúmeras promessas foram feitas em 2007, como a ciclovia da Eliseu de Almeida, a ciclovia do Jardim Helena, a ciclovia do Jardim Brasil, a ciclovia do Grajaú, a ciclovia da Faria Lima, mais acessos a ciclovia do Rio Pinheiros, segue tudo na promessa … ah, desculpe, parece que a da Faria Lima está saindo do papel depois de 30 anos… no canteiro central para “não atrapalhar os carros”.
6. A Ciclofaixa de Lazer é um evento patrocinado por um banco X de cor vermelha. Um outro banco Y de cor laranja tem interesse em expandir as bicicletas compartilhadas por São Paulo, um serviço que atende a mobilidade.
Um dos pontos positivos das bicicletas compartilhadas é que a CET se comprometeu a sinalizar as ciclorrotas onde elas forem instituídas. A sinalização no bairro de Vila Mariana foi feita, bem mal feita mas foi, está lá, apagando-se por ação do tempo, pois foi usada uma tinta de quinta. Foi feita “como teste” me explicaram, uma enganação as pressas para lançar o programa.
Leiam o post “Bicicletas Compartilhadas catapultam sinalização da Ciclorrota”
Devido a um conflito de interesses de patrocinadores, o banco Y não consegue colocar pontos de bicicletas compartilhadas por onde corre a CicloFaixa de Lazer do banco X.
Esse é o principal motivo de minha indignação!
Antes isso me irritaria menos, mas depois que pedalei 470 km em Londres e vivenciei o quanto as “Boris Bikes”, as bicicletas compartilhadas de Londres, que levam esse nome em homenagem ao prefeito que batalhou por elas, determinaram uma mudança de hábito naquela população, fiquei mais atenta a esse fato.
Portanto o que me indigna não é a Ciclofaixa da Paulista em si, vou até adorar pedalar com meus netos por lá, o que irrita e muito é essa política de enganação que não atende aos interesses da população.
A política do pão e circo.
Eu quero lazer e mobilidade em uma infraestrutura permanente, de qualidade, e não mambembe e provisória como essa enganação!
Renata Falzoni
Ciclorrota sinalizada com tinta perene na região das bicicletas compartilhadas
Renata Falzoni
Sinalização dos deveres e direitos dos ciclistas, é sempre provisória. Não há estrutura permanente
Renata Falzoni
sinalização sempre provisória dos deveres e direitos dos ciclistas
bicicletada
Bicicletada de Agosto denuncia a política de Pão e Circo
Renata Falzoni
Rede de bicicletas compartilhadas confinada em regiões onde a Ciclofaixa de Lazer não passa
Renata Falzoni
Bicicletas compartilhadas não seguem ao longo da Ciclofaixas de Lazer