Dói ver a China banir os ciclistas
Caio Calles, Aguinaldo Melo, Luciano Kdra e eu estamos na China, para a cobertura da última edição dos Asia X Games, na cidade de Shanghai.
Caio Calles, Aguinaldo Melo, Luciano Kdra e eu estamos na China, para a cobertura da última edição dos Asia X Games, na cidade de Shanghai.
Passei pela China Cycle 2012. Aqui tudo é superlativo e fiquei mesmo impressionada pelo o que essa Feira representa. Ela é o Raio X de como vai a indústria das bicicletas no Mundo.
Faz uns 10 anos o mercado de bicicletas diminuiu. Isso mesmo a quantidade de bicicletas vendidas caiu, mas o movimento financeiro do negócio está em equilibrio, pois existe valor agregado nas bicicletas vendidas.
Em uma linguagem simples, vende-se menos bicicletas, mas fatura-se o mesmo, pois as bicicletas agora são melhores e custam mais.
A China tirou 400 milhões de cidadãos da pobreza nessa última década e isso reflete diretamente no mercado de bicicletas e ciclomotores elétricos.
O setor mais interessante em qualidade e tecnologia da China Cycle 2012, foi justamente o pavilhão dos produtos que não serão exportados, as bicicletas feitas para abastecer o mercado interno.
Todos os modelos, mountain bike, speed, bikes fixas, dobráveis , mobilidade estão lá, muitas delas em carbono.
Eduardo Musa, presidente da Caloi, me explicou detalhes desse processo muito interessante. Só para se ter uma ideia, a Shimano está com problemas de abastecer o mercado mundial, justamente devido a essa demanda chinesa. A fila de espera é de 6 meses!
Estamos falando de um detalhe de um segmento, imagine as consequências disso no resto do mundo.
O efeito desse crescimento econômico, baseado no sonho de consumo da classe média é aquele que conhecemos de longa data.
Em 10 anos Shanghai reformou toda uma área urbana a leste do Rio Huangpu, que estava degradada. Mandou ao espaço a sua população e construiu um centro novo, o bairro de Pudong.
O visual é de uma Manhattan. Arranha céus espelhados, praças maravilhosas, avenidas para carros congestionados, com outra semelhança: A parte nova da cidade não tem calçadas tão largas como a antiga e nenhuma ciclovia, sem falar que para cruzar o rio, não tem pontes para pedestres ou ciclistas. A cidade é cizalhada pelo rio e as obras não inserem as pessoas apenas os carros.
Amanhã vou fazer esse teste, como um ser vivo cruza o rio.
O resto de Shanghai, a parte antiga, tem uma via paralela por onde seguem ciclistas e ciclomotoristas.
O “novo” excluiu o “velho”. As bicicletas foram banidas do centro novo.
Mas elas estão lá persistentes, pois ciclistas são persistentes em todo o mundo e a China é o país da Massa Crítica.
Voltando a Feira, as bicicletas dobráveis dominam. Quer dizer tem de tudo, mas as dobráveis se mostram em diferentes tamanhos, materiais e soluções de engenharia.
No entanto as que mais me chamaram atenção foram as bikes de cabono aro 20 não dobráveis, de mobilidade urbana, chiquérrimas algumas assinadas por Ferrari e Lamborghini.
Apesar de serem nomes que assinam carros velozes e poluentes, são marcas que conferem status por design. Ao piratear as bicicletas e assiná-ls eles o fazem com bom gosto e estilo. Mas é pirataria.
Uma coisa eu tenho que rever. Sempre gosto e continuo gostando muito de bicicletas aro 700. São de fato melhores para rendimento, mas o principal motivo que eu pouco pedalao aro 20 em São Paulo é o estado terrível de nosso pavimento.
Então pensando melhor, as bikes aro 20 com geometria de MTB super leves de carbono, algumas com apenas 5 quilos são ideais para a mobilidade que eu quero.
Mas eu também preciso de uma São Paulo pavimentada, com carros a baixa velocidade ao meu lado é pedir muito?