Trem, Bike, Polícia e Copa do Mundo
Muito se fala sobre o legado que a Copa do Mundo e a Olimpíada deixarão para o Brasil. O foco está nos aeroportos, nos estádios, nos estacionamentos e pouco se escuta sobre infraestrutura.
Muito se fala sobre o legado que a Copa do Mundo e a Olimpíada deixarão para o Brasil. O foco está nos aeroportos, nos estádios, nos estacionamentos e pouco se escuta sobre infraestrutura para a população e mobilidade sustentável.
Mesmo assim, em dezembro de 2010, Salvador anunciou o plano “A Cidade da Bicicleta” onde prometeu-se 150 km de ciclovias e ciclofaixas, calçadas e acessibilidade; Porto Alegre aprovou um planejamento cicloviário (ainda no papel) e o Rio de Janeiro vai ampliar sua estrutura cicloviária de 150 para 300 km até 2012.
Enquanto isso São Paulo não tocou no assunto, calçadas então é um tabu!
Necessário lembrar que, todo torcedor de Copa do Mundo é um turista a pé que depende de transporte público para se locomover.
O cáos que rolou em Johannesburg na Africa do Sul ilustra bem o que é sediar uma Copa do Mundo sem estrutura de transporte público, onde os cidadãos são carrodependentes, tanto pelas vias de fato quanto pelo emocional! O caso de São Paulo.
Coréia, Japão e Alemanha deram show de organização nesse quesito.
Veja o vídeo de bike e trem até a arena barueri:
Para a cobertura da Eldorado ESPN, fui conferir como é ir de bicicleta e trem para o Jogo Santos x São Paulo na Arena Barueri, jogo válido para o Campeonato Paulista.
Aos sábados depois das 14 horas e domingos é permitido entrar nos trens da CPTM e do Metrô com a bicicleta, essa é uma conquista preciosa dos cicloativistas junto com a CPTM que é parceira.
Levei apenas 45 minutos entre as estações Vila Olimpia da linha Esmeralda da CPTM e a estação Jardim Belval, em Barueri pela linha Diamante a um custo de R$ 2,65. Os trens estavam vazios e a viagem foi tranquilíssima.
A diferença entre as linhas é brutal. De um lado a linha Esmeralda tem vagões com ar condicionado e segue ao longo do Rio Pinheiros que, mesmo sendo poluído e malcheiroso, é bonito de se ver; de outro a linha Esmeralda, que sai de Osasco para Itapevi, corta uma paisagem malcuidada, separada dos trilhos por muros pixados, lixo ao longo de todo o caminho e somente de vez em quando, lá ao longe, vê-se o Rio Tietê.
A melhor vista em todo o trajeto é o Quartel de Quitauna, o único verdinho organizado e limpo.
Em Jardim Belval, Barueri, um esquema policial, armado a cacetetes e balas de borracha, aguardava os torcedores. Eles foram agrupados e escoltados à Arena.
A forma como a Polícia lida com torcedores aqui no Brasil lembra bem os tempos da ditadura. Existe um motivo, alguns torcedores saem de casa afins de brigar mesmo. Não são todos é claro, mas esses poucos sujam a fama das torcidas. Uma vez inflamados, esses torcedores desencadeiam uma onda de violência em cadeia, muito rápido. Um único torcedor descontrolado desiquilibra tudo. Então o tratamento pela polícia é generalizado, sem filtro algum.
O torcedor a pé na rua, em transporte público, caminhando nas calçadas é observado como um potencial desordeiro.
Mas o torcedor de Copa do Mundo é outro. É da paz, confraterniza. Nossa polícia não tem ainda um “degradê” no trato com o público.
Presenciei bem isso ao vivo, em várias ações de cicloativistas onde, por mais de uma vez, houve excesso na ação por parte da polícia.
Assunto delicado e difícil, mas faz parte do legado da Copa do Mundo uma polícia que saiba lidar com esse público que é diferenciado e vai estar em massa em nossas ruas.