Ponto Final Bárbaro
A Revista da Folha publicou uma entrevista comigo, em resposta a coluna "Cicloativíssima" onde a jornalista Barbara Gancia discorda do uso da bicicleta em São Paulo como transporte.
A Revista da Folha publicou uma carta de Walter Feldman e uma entrevista comigo, em resposta a coluna “Cicloativíssima” onde a jornalista Barbara Gancia discorda do uso da bicicleta em São Paulo como transporte.
Cara Barbara Gancia, sobre sua coluna na Folha, “Cicloativíssima”, gostaria de fazer dois comentários. Em primeiro lugar a bicicleta é um meio de transporte mais civilizado que o automóvel. Onde cabem oito bicicletas, cabe apenas um carro. Copenhague, Londres, Paris, Tóquio, Amsterdã, Bogotá, Frankfurt e tantas outras cidades já perceberam o que a Renata Falzoni tenta provar a décadas: não cabem mais carros nas cidades e a bicicleta é alternativa barata, saudável e sustentável. Londres tem pedágio urbano e a 4ª avenida, em Manhattan, foi reduzida pela metade para abrigar uma nova ciclovia. Aliás, os EUA -terra dos carrões- investem mais de 1 bilhão de dólares ao ano em estrutura cicloviária. Em segundo lugar, na pele da Renata, eu não ficaria ofendido, como sei que ela não ficou. Seu texto foi uma homenagem à coragem, à garra, ao caráter dela e à amizade de vocês duas. E também uma lição de democracia que todos deveriam entender e usar como exemplo. Parabéns por isso, mas acho que chegou a hora de você reciclar algumas idéias e conceitos.
WALTER FELDMAN
deputado federal e ex-secretário municipal de Esportes, Lazer e Recreação
“Quero que a Barbara aceite pedalar comigo”
Em resposta à colunista Barbara Gancia, que critica o uso de bicicletas como meio de transporte em São Paulo, a cicloativista Renata Falzoni defende as bikes
Cabe a bicicleta como meio de transporte em São Paulo?
Uma coisa é certa: carro não cabe mais. A bicicleta cabe em São Paulo, em Nova York, em Los Angeles. Tudo passa pela política pública.
Como você avalia a política pública?
Falta um político que diga “vamos mudar” e que desagrade a quem está acostumado a sair com o carro da garagem e reclamar do trânsito. Quando falo em mudança, não falo de ciclofaixa no fim de semana. Precisamos de uma estrutura cicloviária e de regras para que o carro partilhe a rua com quem está pedalando.
Mas não há regras?
Falta sinalização. É comum o motorista dizer que o pedestre ou o ciclista atravessaram fora da faixa de segurança. Mas por onde ele deveria passar? Muitas vezes, nem faixa tem. O pedestre e o ciclista são o resto nesta cidade. Há um problema de relacionamento do ciclista com o motorista? O ciclista age de forma reativa a uma postura da minoria dos motoristas. O problema é que basta um carro te desrespeitar e ele te mata.
É possível conviver?
Sim. Mas, aqui, infelizmente, o pessoal só imagina segregação. Não consegue liberar as ruas para um trânsito partilhado. A política pública entende que quem tem poder está dentro do carro e é quem tem direito ao espaço. Isso é uma armadilha que faz a gente brigar entre nós.
Você vai dar uma bicicleta para a Barbara Gancia?
O presente está de pé. Eu quero que ela aceite pedalar comigo. Não é de hoje que ela critica muito a minha atitude. Mas estou acostumada. Tenho 57 anos. Imagine o que foi eu optar pela bicicleta quando tinha 20 e poucos.