Ciclovias de lazer é o nosso carma
Na última segunda feira, aconteceu no Palácio do Governo, uma reunião onde autoridades apresentaram a sociedade civil de São Paulo, o projeto da Ciclovia da Marginal do Rio Pinheiros.
Na última segunda feira, aconteceu no Palácio do Governo, uma reunião onde autoridades apresentaram a sociedade civil, em especial aos ciclistas urbanos de São Paulo, o projeto da Ciclovia da Marginal do Rio PInheiros.
O projeto cai de sopetão, sem respeitar projetos e idéias anteriores e – como tudo que se decide de forma apressada “para aproveitar a maré” – fica evidente que muitos erros serão cometidos.
Mas antes de criticar vamos ao de bom nisso tudo. Por fim, desafogar a pressão dos ciclistas sobre a política pública passou a ter alguma prioridade tanto na Prefeitura como no Governo Estadual.
Agora ambos se retorcem para fugir da eficiente ineficiencia dos burocratas da CET e da Secretaria de Transporte, se viram como podem, para fazer alguma coisa para quem pedala nessa cidade.
Nesse ponto estão do nosso lado.
Por outro lado, as mesmas autoridades “ao nosso lado” preferem fingir que desconhecem a diferença entre espaço para se pedalar por lazer ou mesmo esporte e mobilidade urbana em bicicleta.
Importante lembrar que uma solução não nega a outra e ambas podem e devem existir juntas.
Mas anunciam ciclovias e nós entendemos que será também para o transporte, e quando as propostas acontecem, a única solução viável que chega é sempre a de lazer.
Pelos detalhes da proposta apresentada na última segunda feira, fica evidente que a principal preocupação, ou única solução no momento, para com a Ciclovia da Marginal será o lazer.
Estacionamento no acesso pela represa Billings, não acesso pelas atuais pontes, marcos de concreto pra ficar bonitinha, enfim, não se falou concretamente de acessos para a população tanto em lazer como em transporte ao longo de todo o trecho da mesma.
Pior, perdeu-se a oportunidade de se integrar os dois lados do rio, em um amplo parque linear que mudaria a cara da cidade de São Paulo conforme reza o projeto da Fundação Aaron Birmann.
Porque tudo isso? Porque atualmente somente temos o apoio da CPTM então tudo o que for sair dessa proposta deve ficar 100% ao alcance deste órgão para não truncar nos opositores.
Enquanto o poder de decisão sobre o uso dos espaços públicos estiver nas mãos da CET, da Secretaria de Transportes, nada vai rolar para o lado dos pedestres e dos ciclistas.
Os acessos pelas atuais pontes conforme proposto por todos, são tabu. Todas as autoridades desconversaram o assunto e porque?
Veja bem as pontes de São Paulo não contam sequer com faixas de pedestres que legitimariam o uso destas por pedestres que dirá de sinalização a ciclistas, para acessarem uma ciclovia?
Esse é X da questão: Toda a estrutura de mobilidade urbana de São Paulo está nas mãos de órgãos que não pretendem dividir um único centímetro aos cidadãos a pé ou de bicicleta. Nem mesmo as calçadas de uma ponte.
Esses mesmos órgãos assim que podem extinguem praças, calçadas e acostamentos para criar mais uma pista de rolamento sem a menor cerimionia.
A ausência da CET e da Secretaria de Transportes a essa reunião comprova o que falo. Esse assunto não interessa sequer ser discutido em público por essas autoridades.
Hoje fica evidente que o Grupo Pró Ciclista que antes ficava a cargo da Secretaria do Verde e Meio Ambiente foi levado para a Secretaria de Transporte, para morrer sufocado nos escapamentos daquela secretaria.
Para mudar a cidade de São Paulo precisamos comecar a sinalizá-la a outros modais de transporte de forma organizada e democrática, já!
Quando uma cidade do porte de São Paulo que tem 38% de seus deslocamentos feitos a pé não prevê sequer faixas aos pedestres para cruzar as suas pontes, assina deliberadamente que pedestres e ciclistas não têm direito de se moverem pela cidade de forma “legal”. São o resto, os que atrapalham o trânsito dos automóveis.
Se essa ciclovia fosse “persona grata” na mobilidade urbana aos olhos da CET, ela teria acesso garantido pelas pontes imediatamente, sem problema algum. Mas não, tudo para bicicleta nessa cidade há que sair apesar da CET e da Secretaria de Transporte.
Todo o poder de decisão está nas mãos de quem sabota a bicicleta como meio de transporte e ponto.
Então antes dos cicloativistas ficarem bravos ao receber “de presente” uma ciclovia de lazer, temos que ter a ciência que “ciclovias de lazer” são as únicas coisas que as autoridades de São Paulo que desejam a mobilidade em bicicleta conseguem fazer nesse momento nessa cidade.
Não vou aplaudir as autoridades porisso, mas também não vou crucificá-las em praça pública pelo mesmo motivo.
A real é que eu não abro mão de um único centímetro quadrado destinado a bicicleta nessa cidade, não importa qual o uso a ser dado.
Mas atenção, as eleições estão chegando. Vai ser osso duro de roer ter que escutar que algo foi feito nessa gestão pela bicicleta como meio de transporte pois até agora nada foi feito!
Vai ser mais uma propaganda enganosa e dessas estou farta!