Rua para as pessoas
Nesse domingo cobri a Maratona de São Paulo. Fui de bicicleta e não era a única a pedalar pelo circuito de 42 km que serpenteava a cidade, ao meu lado algumas centenas de ciclistas.
Nesse domingo cobri a Maratona de São Paulo. Fui de bicicleta e não era a única a pedalar pelo circuito de 42 km que serpenteava a cidade, ao meu lado algumas centenas de ciclistas, em sua maioria pais acompanhados de seus filhos, aproveitaram as ruas a salvo de carros para curtir um domingo ao ar livre.
Nos idos tempos da prefeita Erundina, de 1989 a 1993, a av Juscelino Kubitschek era fechada aos domingos desde o Ibirapuera até a marginal do Pinheiros. É anterior a essa época um projeto de ciclovias pelas marginais de terra do Rio Pinheiros unindo a USP ao Vila Lobos e ao Ibirapuera. Esse projeto paira pela prefeitura até hoje e diz a lenda que vai sair! Diz a lenda!
De lá para cá, a USP fechou suas portas aos domingos à população paulistana, sem falar na antipatia declarada aos ciclistas.
Nas gestões que se seguiram, a ciclovia de fim de semana pela JK foi abolida, assim como os Passeios Ciclísticos da Primavera e tudo o mais que se relaciona a pessoas ocupando ruas aos fins de semana, isso por conta da falta de vontade política da CET.
Um rol de problemas inventados sempre foram as desculpas esfarrapadas dadas aos jornalistas e aos cicloativistas que desde essa época indagavam o porque da abolição da ciclovia da JK, após as obras dos túneis. Uma batalha senão perdida, esquecida.
Lembro bem do advogado Luis Calandriello já falecido, dizer que a ciclovia da JK era uma lei extraordinária ou algo parecido que não poderia deixar de ser cumprida aos fins de semana. Se isso for verdade, trata-se de mais uma lei de papel a favor das pessoas nas ruas, descumprida na cara dura.
Mas independente disso, o fato é que seria muito fácil retomar a ciclovia de fim de semana pela Av JK e unir os Parques da Bicicleta (esquina da República do Líbano com av Ibirapuera) do Ibirapuera e do Povo. Houve uma tentativa nesse sentido capitaneada por Leão Serva, assessorando o Serra na época prefeito, mas não vingou.
(Ah, apenas lembrando o Parque das Bicicletas será fechado por uns bons anos devido as futuras obras do metrô e mais, as obras dos túneis da JK extinguiram as ciclovias que por ela passavam no canteiro central alguém se lembra?).
Isso desafogaria o Parque do Ibirapuera que aos fins de semana fica impraticável, tanto a pedestres quanto a ciclistas e daria uma chance ao paulistano de pedalar aos fins de semana pelas ruas, com segurança ao lado de seus filhos.
Mas em São Paulo a “bikefobia” é muito forte mesmo, o tema é mais que um tabu enorme. Parece uma questão de honra negar toda e qualquer atitude no sentido de promover a bicicleta como meio de transporte, lazer ou o que for.
Nos chamam de xiitas e radicias, mas não vejo nada mais radical do que negar o espaço urbano aos pedestres e aos ciclistas da forma como é feita em São Paulo. Isso sim é ser radical!
Nesse ponto precisamos dar crédito ao Rio de Janeiro que além dos 140 km de ciclovias, a prefeitura ainda tira os carros do aterro do Flamengo aos domingos para que a sua população possa desfrutar um pouco mais do espaço ao ar livre na cidade.
Fosse em São Paulo, teríamos asfaltado a praia da Copacabana, entupido-a de carros, ônibus e caminhões, por onde as “Garotas de Ipanema” passeariam trancadas dentro de Tucsons falando ao celular, a atropelar pedestres e ciclistas com o respaldo da CET, que proibiria o acesso dos banhistas ao mar por “segurança”.
O disparate a se ouvir seria:
“_Onde já se viu querer atravessar a praia dos carros para se chegar no mar?”
Essa é a lógica absurda da CET de São Paulo, cisalham a cidade com a malha viária e proibem os pedestres de por ela circular.