Abuso de poder durante manifestação cicloativista na Marginal Pinheiros
No dia 14 de abril, o acostamento da marginal do Rio Pinheiros entre as pontes Morumbi e João Dias foi retirado, para dar espaço a mais uma faixa de rolamento de veículos automotores.
Fui testemunha de mais um abuso de poder, tanto por parte tanto da polícia quanto da CET na noite de ontem, dia 16 de abril.
Vamos aos fatos. No dia 14 de abril, o acostamento da marginal do Rio Pinheiros entre as pontes Morumbi e João Dias foi retirado, para dar espaço a mais uma faixa de rolamento de veículos automotores. Sucede que todos os dias milhares de ciclistas e pedestres usam esse acostamento, que é (era) relativamente seguro para o trânsito de não motorizados, já que trafegar com carros pelo acostamento é proibido.
Detalhe esse é o único acesso aos bairros mais ao sul da cidade., por esse lado da marginal.
Em face a isso, os cicloativistas foram à marginal as 7 horas da noite do dia 16 de abril, e repintaram a faixa de que antes sinalizava o acostamento e de quebra pintaram também as bicicletinhas de ciclofaixa. Durante esse processo eu filmei no mínimo uns 50 ciclistas transitando por esse trecho, em direção aos bairros mais ao sul da cidade e outros 70 passaram batido sem que eu pudesse filmá-los, ou seja nessas horas passaram por nós cerca de 120 bicicletas e uns 20 pedestres, no mínimo.
Ou seja a CET para dar mais espaço a fluidez de veículos motorizados simplesmente suprimiu o acesso de ciclistas e pedestres aos bairros mais ao sul da cidade pela marginal. A opção legal de hoje é encarar as ladeiras do Morumbi o que aumenta em pelo menos uma hora o trajeto que antes era de uns 15 minutos no máximo.
Durante a ação, a CET mostrou-se bastante amigável. Além deles, os primeiros policiais que por ali passaram deram até a recomendação para que os ciclistas pintassem uma linha contínua e não fracionada, já que a linha contínua proíbe a troca de faixa e a fracionada é na verdade um convite aos veículos a mudarem de pista.
E assim foi, os ciclistas passaram a pintar a linha contínua.
Logo em seguida os policiais foram chamados para atender uma ocorrência, saíram em disparada e a CET também. Por um momento os manifestantes ficaram a sós na avenida e uns 30 minutos depois um contingente de policiais já com uma postura bem diferente, chegaram com as mãos em seus coldres perguntando sobre um suposto apedrejamento de carros!
Apedrejamento de carros isso mesmo, foi o notificado pela viatura da CET, que os manifestantes teriam apedrejado a viatura da CET na marginal. Bom eu estava presente o tempo todo e teria filmado qualquer tipo de violência nesse sentido, já que antes de tudo sou jornalista. Não houve apedrejamento algum de carros.
Os policiais, com uma atitude nada amistosa colocaram a viatura defronte dos ciclistas e ordenaram que estes parassem imediatamente de pintar a faixa de rolamento alegando que deveriam parar e pronto. Entendo que por ser uma manifestação pacífica um policial não pode ordenar a sua interrupção.
Ciclistas e policiais passaram a argumentar direitos e deveres, pois os segundo a óptica dos ciclistas a polícia não pode interromper um ato pacífico.
A seguir um tumulto e prendem o jornalista Bike Repórter da Rede Eldorado Felipe Aragonez, em uma cena que está toda filmada por mim. A alegação foi que Felipe desacatou a autoridade e resistiu a prisão. O vídeo fala por si só.
Não ouve desacato ou mesmo resistência.
Nosso colega foi levado ao 89 DP e irá responder por desacato e resistência.
Nessa altura eu pedalei na contra-mão da marginal para buscar um local de melhor sinal de celular, quando fui abordada por uma viatura que veio a meu encalço na contra mão. Dois soldados saíram me cercaram e ordenaram que eu me identificasse.
Apresentei meus documentos ao soldado PM Castilho que anotou os meus dados. Não entendi porque A TV Globo que filmou parte dos acontecimento não teve que se identificar e eu por estar em bicicleta sim tive que fazê-lo.
Ainda antes de ir-me embora, fui notificada em voz alta pelo Segundo Sargento PM Madureira que eu seria processada caso viesse a veicular na televisão as imagens que eu filmei, porque ele não me autorizava a usar suas imagem na TV.
Esse aviso foi dirigido a mim e ao cicloativista Aylons (www.aylons.com.br) que também filmou o ocorrido.
De imediato respondi que por ser um fato jornalístico eu poderia veicular o ocorrido sim.
O referido sargento voltou a me alertar que eu seria processada.
Conclusão disso tudo é sempre a mesma. Todo o aparato de Segurança do Estado, mais os Órgãos que regulam e organizam o transito da cidade de São Paulo dão provas todos os dias que somente trabalham em pról do cidadão dentro de veículos.
A esmagadora maioria que são pedestres, ciclistas e usuários de transporte público, não são contemplados com os devidos cuidados quanto a sua (nossa) segurança, são imediatamente acuados, presos e ameaçados quando expõem as suas discordâncias.
Uma orçamento bilionário será investido a curto prazo em túneis para veículos automotores enquanto pedestres e ciclistas estarão mais uma vez de fora desses projetos com a alegação de falta de espaço e ou inadequação para o nosso uso.
Esse país cansa.
A seguir a íntegra do panfleto que os manifestantes entregaram ao público na Marginal
ENTENDA O QUE ESTÁ ACONTECENDO
Estamos protestando, mas não contra os carros: é contra a política da CET de trocar vidas por fluidez.
Todo mundo sabe que a prefeitura faz de tudo para melhorar a fluidez dos carros, mas não adianta: a cada dia, temos mais 1000 automóveis nas ruas. Não haverá viaduto, avenida ou canalização dos rios Pinheiros e Tietê que dê jeito.
Mas o que não fica tão claro é que essas ações para melhorar a fluidez são em detrimento da segurança das pessoas que estão fora dos carros. Aqui em São Paulo, a preferência é sempre dos carros, apesar da lei dizer o contrário. E é justamente por isso que, enquanto na Europa 75% das vítimas de trânsito estão dentro dos carros, em São Paulo esse número é de 18,5%. Quem se estrumbica é sempre quem está passando na rua e não tem nada a ver com os automóveis.
O que estão fazendo na Marginal Pinheiros é um exemplo desse descaso. Para melhorar um pouco a fluidez, a CET acabou com a faixa de acostamento que havia entre a Ponte do Morumbi e o supermercado Extra. E qual o problema disso?
O problema é que esse é um trecho muito utilizado por ciclistas e pedestres, pois não existe outra alternativa para ambos a não ser os morros impraticáveis do Morumbi, dando uma volta enorme. Sem o acostamento, os ciclistas terão que dividir espaço com veículos em alta velocidade e os pedestres terão que se equilibrar por 2 km em uma guia de 15 cm.
Será que chegar alguns minutos antes vale o risco de vida que essas pessoas estão correndo? Estamos sim protestando, mas não contra os motoristas e sim contra essa política de mobilidade urbana que tira a vida de mais de 800 ciclistas e pedestres anualmente em nossa cidade (fonte: Estadão – http://tinyurl.com/c5urkn).
Faça sua parte, se recusando a usar essa faixa assassina da direita e se indignando com as escolhas da prefeitura, que em nome da “fluidez” tira o direito que todos têm de se deslocar com segurança pela cidade.
Muitos que usam o carro gostariam de usar outros meios de transporte, mas não o fazem porque a política de mobilidade de São Paulo imobiliza quem não usa o carro. O resultado é o sofrimento de todos, inclusive de quem opta por dirigir.
Devemos nos preocupar com o bem estar de todos, não só de quem utiliza o automóvel. E escolhas erradas prejudicam até mesmo os motoristas. Não podemos concordar que os benefícios de uns tragam risco de vida aos demais.
Contamos com sua compreensão e convidamos a participar dessa luta, pois quando a maioria das pessoas perceber que a cidade só tem a ganhar com menos carros nas ruas, a política urbana mudará e não teremos só melhores avenidas, mas melhores condições para quem for usar o transporte público, a bicicleta e aos pedestres principalmente.
Teremos uma cidade melhor para todos. Até para quem, ainda assim, quiser dirigir.